Tem muita política, pouco futebol e quase nada científico no debate da realização da Copa América no Brasil, campeonato que está sendo rechaçado pelo técnico da seleção brasileira, Tite, e parte dos seus comandados, quase todos jogadores com atuação na Europa.
Simultânea à maioria dos governadores, a reação ocorre no mesmo instante das eliminatórias da Copa, disputada pelo mesmo elenco em países da América do Sul e num ambiente de encontro de delegações.
Não se tem notícia de nenhuma reprovação, rejeição ou ponderação pública de treinador e jogadores até então, quando o evento aconteceria na Argentina e Colômbia.
Ao pender para o Brasil, o jogo na retranca começou. E ficou evidente desde o instante em que o presidente Jair Bolsonaro escalou-se para ser o mascote do campeonato em plena pandemia descontrolada em nosso território verde-amarelo.
Não se pode duvidar que se Bolsonaro tivesse rejeitado o pedido da CBF, a crítica seria contra uma confessa incapacidade de cumprir protocolos e de garantir segurança sanitária. Uma mensagem negativa para o mundo, diriam os mais exaltados.
A discussão que deveria ser técnica e conduzida pela Confederação Brasileira de Futebol, naturalmente observando as condições objetivas, entrou – como tudo hoje em dia – no campo da partidarização e das arquibancadas ideológicas.
Quase ninguém está interessado em conhecer os protocolos, ouvir sanitaristas, especialistas, médicos e a tal da Ciência. Os pareceres dos cientistas de whatsapp – contrários e favoráveis – já estão prontos. E eles obedecem à tática dos times da polarização.
Quando a realização de um torneio desimportante vira uma política de governo, defendida tanto quanto tratamento precoce de cloroquina, e, por outro lado, passa a ser rejeitada como um holocausto, significa que tem algo muito errado no ar.
Convertido a país da política, o Brasil mandou o futebol pra reserva. Hoje, coitadinho, ele desperta menos paixões.