Campina Grande pode até não ser de fato a capital da Paraíba, mas há muito é a capital dos negócios e da prosperidade econômica alavancada pela diversidade e a força do seu comércio varejista e atacadista. Abençoada pela estratégica localização geográfica, Campina ganhou, há 28 anos, quando escrevi O Nordeste que deu certo, reeditado ao longo dos últimos dias neste blog, o título de maior centro de compras do interior nordestino.
Bateu, de longe, Caruaru, sua rival na economia e no forró. Bateu, igualmente, Feira de Santana, a pujante cidade baiana que mais cresce no Nordeste. Nos últimos anos, graças a uma política de incentivos fiscais atrativa, Campina Grande deu uma cara múltipla de investimentos ao seu distrito industrial. Confira abaixo o segundo capítulo do livro da estação paraibana.
A força da Borborema
Capítulo 24
Historicamente, tanto no contexto econômico como geográfico e até político, Campina Grande disputou com João Pessoa a condição de capital do Estado da Paraíba. João Pessoa venceu a queda de braço, mas Campina Grande tem charme e estrutura de capital. Os mais bairristas dizem que João Pessoa levou vantagem por estar situada no litoral. E só. Pode ser até exagero, mas Campina Grande é sempre uma ameaça à capital, pela sua pujança econômica, pelo ritmo acelerado de crescimento e por ter múltiplas vocações.
Com uma população de 350 mil habitantes e mais de 100 mil flutuantes, esta formada por gente de todo Nordeste que procura a cidade para fazer compras e negócios, Campina Grande é privilegiada a começar pela sua localização: está encravada num entroncamento influenciado por 57 municípios, que formam a Chapada da Borborema. Da capital, fica a apenas 120 km; do Recife, 250 km, e de Natal, 200 km. Possui um parque tecnológico que é o segundo do País, tendo nesta área superado todas as capitais do Nordeste, inclusive João Pessoa.
Por essas conquistas tão expressivas, é possível explicar a rivalidade história com a capital paraibana. Para não ficar abaixo de João Pessoa e ter um título igual, a população passou a se referir a Campina Grande como a “Capital do Trabalho”. E aqui se trabalha: existe uma economia informal que oferece mais de 100 mil empregos diretos e um comércio ativo empregando 30 mil pessoas. O Distrito Industrial, que na década dos anos dourados de 70 foi impulsionado pela Sudene, está sendo ampliado hoje pela quarta vez. Não é por acaso que Campina Grande é a maior cidade industrial do interior nordestino.
O parque industrial, apesar da crise e da falta de incentivo governamental, abriga 37 empresas de porte médio. Tradicional polo de calçados do Nordeste, Campina Grande atraiu a sede da Alpargatas do Brasil e a Azaléia, dois dos maiores produtores de calçados do País. A Refinações de Milho do Brasil também tem uma unidade operando para abastecer toda a região e há outras indústrias igualmente competitivas e geradoras de emprego, como a Bentonita Verão (minérios), a Parc (sapatos) e a Cimar (também de sapatos), e que passou a exportar 6 mil pares por semana para os mercados da Venezuela, Uruguai, Costa Rica e África do Sul.
Na área de confecções, o destaque fica para o Centro Luiz Mota, formado por 120 lojas ocupadas por pequenos empresários do ramo. “Aqui todo investimento dá certo”, costuma repetir o prefeito Félix Araújo Filho (PMDB). Segundo ele, Campina Grande está se consolidando agora também como polo graniteiro. A Paraíba é rica em granitos e existem, segundo o prefeito, seis projetos aprovados pela Sudene, sendo que o primeiro, no valor de US$ 23 milhões, já começou a ser implantado e visa abastecer o mercado internacional.
No setor têxtil, quatro fiações e tecelagens estão com projetos aprovados para se instalarem na área do novo Distrito Industrial. A Prefeitura está com um programa de incentivos para atrair novos investimentos. “Nós oferecemos o terreno e o FNE banca o restante”, diz o secretário de Indústria e Comércio de Campina Grande, Sandoval Farias, acrescentando que já existem cerca de 40 pequenas empresas montando galpões no Distrito Industrial.
“Nós desapropriamos uma área de 180 hectares capaz de receber qualquer tipo de investimento”, reforça o prefeito. A nova área já atraiu indústrias têxteis, de beneficiamento de granito, metal-mecânico e lentes oftálmicas, representando uma alocação de recursos de US$ 27 milhões. Campina é, ainda, a única cidade do interior nordestino a fazer parte da pauta de exportações do Brasil com programas de computadores, calçados, confecções e, futuramente, granito.
Comando da indústria
A sede da Federação das Indústrias da Paraíba não está localizada na capital, mas em Campina Grande, onde se encontram dois terços dos sindicatos patronais. O prédio, para seguir literalmente a tradição de que tudo em Campina Grande é formoso, tem oito andares e uma estrutura bastante moderna, abrigando ainda o Sesi e o Senai.
Campina Grande é, ainda, a única cidade do interior nordestino a ter três jornais, sendo dois diários, e duas TVs. Também tem seis emissoras de rádio (3 FM e 3 AM). Na área do Açude Velho, no bairro do Bodocongó, está em construção um grande centro de lazer, incluindo um hotel cinco estrelas bancado pelo Governo do Estado para ser administrado pela iniciativa privada.
O Plano Diretor da Prefeitura contempla inúmeros complexos de lazer já em fazer de funcionamento. Lembram muito Curitiba, pela arborização e extensão das áreas, como o Parque Evaldo Cruz e o Parque da Criança.
Camelô alinhado
Por falta de espaços, tomados desordenadamente pelos camelôs, o centro comercial de Campina Grande estava apresentando uma queda ascendente no seu movimento. E isso levou o prefeito a uma negociação que durou dois meses. “Fomos a única cidade do País que resolveu o problema pacificamente sem que tenha havido um só incidente”, orgulha-se o secretário de Planejamento, Érico Miranda.
Segundo ele, o comércio campinense gira em torno de 1,2 milhão de pessoas, sendo 400 mil só da própria cidade, e o restante procedente dos 57 municípios que integram o Complexo da Borborema. Das ruas centrais, de acordo com o secretário, foram retirados cerca de 400 camelôs, que terão brevemente uma área exclusiva para vendas. “Hoje, eles ainda estão no mesmo local, mas agora, organizados, sem invadir as calçadas”, diz Miranda, acrescentando que a segunda etapa será a remoção de todos os comerciantes ambulantes para uma espécie de camelódromo.
A rua Maciel Pinheiro, reduto dos camelôs, será transformada num shopping ao ar livre. “Vamos resgatar o comércio naquela área e motivar novos investimentos”, explica o secretário, para quem a chegada de novas cinco indústrias têxteis vai dar uma contribuição muito grande para a melhoria do comércio, fazendo com que as pessoas voltem a fazer compras tranquilamente e em condições de adquirir bons produtos a preços nunca vistos. “Estamos investindo, na verdade, em quatro novos centros comerciais para expandir a atividade na cidade”, diz Miranda.
Tradicional centro comercial do Nordeste, Campina Grande continua sendo a cidade mais procurada para compras. “Nossa atividade tem sentido o efeito da crise como todo País, mas podemos assegurar que estamos muito bem”, diz o presidente do Clube dos Diretores Lojistas, Carlos Nojaim.
Segundo ele, Campina Grande tem, hoje, cerca de três mil estabelecimentos comerciais registrados e que empregam 30 mil pessoas. “O forte de Campina é o setor atacadista”, adianta, acrescentando que o município, por estar numa posição geográfica privilegiada, e sediar várias unidades industriais no setor principalmente de alimentos, abastece mais de 100 cidades próximas, incluindo outros estados, como Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.
O microempresário Carlos Antônio Moraes de Souza, de Caruaru, costuma fazer compras em Campina Grande, porque diz encontrar preços bons e fartura em produtos. “Às vezes encontro preços aqui melhores do que no Recife”, afirma. Mas Campina atrai também pelo setor de serviços. Estão localizadas na cidade representações das grandes concessionárias de automóveis e uma atraente rede de lojas de vendas de peças. No campo da saúde, a rede pública é precária, como em todo o País, mas há vários hospitais particulares.
Blog do Magno Martins