Policiais militares gostam de enaltecer o que conceituam como atos de bravura. Atos deles, já vou dizendo. Pronunciamentos públicos, notinhas na mídia, registros em documentos funcionais da corporação, medalhas, discursos de oficiais, músicas para animar exercícios da tropa, tudo é utilizado para o autoelogio – que pode render promoções na carreira.
O que a Polícia Militar de Pernambuco protagonizou ontem no Recife é o oposto desse mundo de supostas bravuras. A PM mostrou a quem serve, mostrou uma de suas caras. Eu estava lá e posso assegurar: é execrável essa cara bruta e covarde.
O centro da cidade, até então pacificamente ocupado por manifestantes, viveu o inferno criado pela PM. Quando a parafernália dos bravos começou a ser vista na confluência da Rua do Sol com a Avenida Guararapes, não me restou dúvida de que armas e veículos não se prestariam para apenas intimidar a população. Foram usadas pra valer e deixaram manifestantes e não manifestantes feridos, alguns gravemente. Os policiais militares agrediram, cercaram, tocaiaram e emboscaram quem estava nas ruas.
Os bravos tomaram a iniciativa do ataque sem que tivesse havido qualquer indício de ofensividade dos participantes do ato. Os bravos foram às ruas para subverter os princípios que regem sua condição de servidores públicos. Os bravos tomaram o centro do Recife para nos ferir e violentar a democracia. Os bravos são covardes.
O que consegui ver postei em minha conta no Instagram (@cronos.pe). Foi pouco o que registrei em fotos e vídeos até porque em mais de um momento precisei correr. Eu não sou bravo.
Contar com apuração dos fatos e punição dos responsáveis é ocupação para desocupados. Prefiro as ruas. Às platitudes de vídeos e notinhas oficiais de qualquer origem e matiz, prefiro Guimarães Rosa: “O que a vida quer da gente é coragem”. A história política do Recife foi escrita com rebeldia e destemor. Cultivo a esperança de que Pernambuco não se intimidará com a bravura dos covardes.
*Jornalista