Vai completar 11 anos. Era junho de 2010. Eu, repórter da Rádio Correio FM em começo de carreira e dono do recém-lançado Portal MaisPB.
Designado pela emissora, embarquei para Salvador (BA). A tarefa era a cobertura da convenção em que o PSDB homologaria o nome de José Serra para a inglória missão de enfrentar Dilma, a candidata do super popular Lula em fim de segundo mandato.
No tranquilo voo, ao lado da minha poltrona, um senhor perto de seus 80 anos. Voz mansa, modos gentis e olhos claros como os céus do Nordeste que cortávamos até nosso destino comum.
Ele não precisou se apresentar. De cara, sabia quem era o vizinho de viagem. Uma conversa longa sobre política e experiências acumuladas. No desembarque, nos cumprimentamos e seguimos cada um para um lado.
Na volta, a companhia tratou de nos colocar, de novo, em poltronas coladas. E o bate-papo interrompido na chegada reiniciava-se no regresso ao chão dos conterrâneos. Parecia providência do destino.
Haveria transição de poder com o PSDB ou o PT renovaria mais um ciclo? Uma pausa no diálogo sobre a política e os desafios daquele emblemático 2010. Parada no Recife (PE), descemos no aeroporto para esperar a conexão. Um e outro procuraram algum passatempo.
Já na aeronave, o companheiro de bordo, esperou um instante e sacou das mãos um presente. Fiquei paralisado. Pediu que eu abrisse. Era “Nunca antes na história deste país”, livro de Marcelo Tas cheio de ironias e bom humor sobre frases de Lula, um sucesso à época.
Pulei a capa e li uma generosa dedicatória que me provocou sincera comoção: “Ao companheiro de viagem, Heron Cid, com quem também fiz despretensiosa amizade. Ivandro Cunha Lima. Recife, 12/6/2010”.
Nunca mais voltei a estar fisicamente com o ex-deputado e ex-senador. E, também, nunca mais deixei de ser seu amigo.