A imagem é histórica, pouco surpreendente, a julgar pela troca bilateral de gentilezas dos dois e os pontos de convergências veladas de PSDB e PT. Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidentes, fizeram questão de publicizar recente encontro. Acima da civilidade, uma inconfundível mensagem política de ambos.
Para Lula, a reunião foi perfeita.
É o sinal para ninguém duvidar de sua disposição e capacidade de agregar e dialogar com diferentes forças políticas. Sai de cena a jararaca de 2018, volta o “Lulinha, paz & amor”, de 2002. O encontro soma em favor da perfomance do petista.
Para o PSDB, o contrário.
A imagem de sua maior referência reunido com o ‘antagonista’ de décadas mina as parcas e débeis tentativas de setores do partido em torno da viabilização de uma candidatura própria. Fulmina aqueles tucanos ainda crentes na possibilidade de oferecer ao país uma alternativa ao lulobolsonarismo.
Parêntese. O PSDB vive uma fase crítica. Enfraquecido nas urnas de 2018, o tucanato é hoje uma sigla em crise de identidade. Fatiada entre um pragmático e constrangido apoio ao presidente Bolsonaro e a tentativa de se portar com postura de independência aos radicalismos de direita e de esquerda.
O gesto de FHC fala para dentro e para fora do partido. Para dentro, desfavorece movimento de candidatura própria, porque um candidato tucano hoje já entraria em cena com a pecha de linha acessória. Para fora, Fernando Henrique Cardoso está dizendo que vale tudo contra Bolsonaro. Um todos contra Bolsonaro, o que deve ser usado pelo capitão como estratégia de discurso “antissistema”.
A aproximação pública é mais lenha na fogueira da polarização e menos combustível para o debate da chamada terceira via. Lula e Bolsonaro agradecem.