Diferente da recém publicada pesquisa Atlas, que indicou melhoria na popularidade do presidente Jair Bolsonaro e empate técnico com o ex-presidente Lula no segundo turno, o levantamento do Data Folha revela outro quadro. E um cenário oposto, de dianteira de Lula, no primeiro e segundo turno.
No Atlas, Bolsonaro tem 37% das intenções de voto contra 32.2% de Lula, no primeiro turno. Já no segundo, o ex-presidente venceria de 45,7% a 41%. No Data Folha, Lula vai ao dobro: 41% contra 23%, no primeiro turno. Uma diferença exponencial. No segundo turno, a distância repete-se: Lula vai a 55%, enquanto Bolsonaro ficaria com 32%.
Por mais antagônicos que sejam os dados, os números traduzem um momento palpável de vantagem à principal voz de contraponto ao bolsonarismo.
Reinserido na cena por obra e graça dos 11 supremos, o petista vive seu melhor momento político desde quando caiu em desgraça na Lava Jato. Com direitos políticos recuperados, condenações anuladas e de volta à estaca zero, Lula está de volta em grande estilo e com disposição de diálogo com leque amplo de forças políticas.
No paralelo, o presidente Bolsonaro vive o auge do seu inferno astral o momento de maior desgaste de sua trajetória no Planalto. Emparedado por uma CPI beligerante e colhendo frutos das crises que ele próprio produz, o presidente paga preço alto pela notória falha no discurso inicial sobre a vacina e o seu consequente retardo.
Refém do centrão, a quem prometeu combater, Bolsonaro tem sido cada vez mais uma sombra do que foi no início do mandato. Não bastasse, experimenta fogo amigo do próprio bolsonarismo, via Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secom, e Barra Torres, presidente da Anvisa.
Muito mais do que a esquerda, o governo é o maior inimigo de si mesmo. E a pesquisa mostra um sinal da avaliação do eleitor sobre a condução da pandemia e de como o governo dialoga mal com a população, preocupado em se comunicar apenas com os devotos.
O quadro para Bolsonaro é irreversível? Depende. Qual será o efeito prático e até onde vai a CPI? Será uma bala de prata a ferir de morte o presidente? Até aqui, não, embora o esforço da oposição na Comissão não pode ser subestimado.
Mas, o que de fato definirá a sucessão. O momento às portas de 2022. Eleitor geralmente não vota em passado, vota no presente. Se a eleição de Dilma tivesse sido em 2013, na explosão das manifestações de rua, ela teria ido ao cadafalso. Em 2014, com ar menos poluído, conseguiu vencer Aécio Neves.
É, portanto, como o governo Bolsonaro estará lá, em matéria de imunização da população e resultados da economia, quem ditará o seu tamanho no embate. E, naturalmente, o de Lula.