Como jornalista profissional, Jorge Kajuru sabe que em toda conversa por telefone com uma fonte pede-se autorização para gravar o conteúdo. Se essa providência não é tomada no começo da ligação, faz-se ao final. No começo ou no fim, o gravado precisa ter consciência e autorizar ou não a publicação.
Como senador, Jorge Kajuru jamais deveria ter gravado, sem combinar, uma conversa com o presidente da República. Muito menos divulgá-la, posteriormente, para fortalecer sua estratégia política ou a imagem do seu mandato. Ainda mais quando o teor do diálogo foi amistoso e afinado na ação.
Nos dois casos, para jornalista ou senador, é uma questão de ética. De dignidade.
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro nunca poderia dizer o que disse numa conversa com um senador da República. O chefe da Nação agiu como um lobista em favor de si mesmo, sugerindo uma explícita manobra política a um parlamentar federal e incitando uma chantagem contra governadores e até contra ministros do Supremo Tribunal Federal.
É coisa para qualquer um, menos para um presidente de um país da envergadura do Brasil.
A julgar pelo áudio, o manequim de senador e de presidente, respectivamente, é grande demais para o tamanho dos dois. Eles apequenaram os seus cargos, diminuíram o Brasil ao chão e explicitaram, em poucos minutos de conversa, o baixo nível que a República brasileira desceu em matéria de responsabilidade político-institucional.
Se procedimento rasteiro como esse for normalizado e até legitimado, não haverá mais dúvidas. É o sinal de que perdemos todos os limites e referências. E que nossa maior tragédia não é a pandemia.