Como beduíno em peregrinação, a Paraíba está há 40 dias na travessia do pior deserto da pandemia. A longa jornada – marcada por decretos restritivos e um março mortífero – começa a visionar os primeiros sinais de uma nova fase.
Uma caminhada penosa que – a despeito do preço das incompreensões, radicalismos e pressões – vai nos movendo da aridez do maior perigo para um território mais protegido dos fantasmas da morte.
E não é miragem.
A fila por UTI, finalmente, zerada, reflexo da ampliação de leitos e dos efeitos das regras de isolamento social, somada ao avanço conjunto da vacinação, clareia a noite mais escura que já vivemos desde o princípio desse pesadelo.
Os dados ainda inspiram muitos cuidados e nenhuma euforia, mas já são alento para quem – no mais triste mês de nossa história – só teve luto para vestir.
Muito provavelmente, a estabilidade real planejada pelo Estado só deve ser sentida mesmo na segunda quinzena de abril, quando os resultados da quarentena oficial e sacrifícios coletivos tendem a fechar seus contornos.
É em razão desse prognóstico que o Governo da Paraíba e as autoridades sanitárias decidiram pela retomada em decreto publicado neste sábado. Uma reabertura controlada, com limitações.
O tempo de duração dessa nova fase dependerá da consciência cívica e cidadã. Cautela contra aglomerações e respeito aos protocolos é a vereda individual para uma retomada gradual, segura e definitiva para todos (indivíduos e empresas).
Depois do arenoso trajeto em bravia tempestade de perdas, debaixo do sol das incertezas, a nossa caminhante Paraíba começa a sentir na face o refrigério da brisa úmida de superação. Uma sombra para descansar, beber gotas de resiliência e seguir em frente.