Olhando separadamente, eles são irreconhecíveis e autônomos. O Bolsonaro que desdenhou da pandemia e perdeu tempo ridicularizando a vacina nem lembra o presidente que ontem veio a público para anunciar o “ano da vacinação” e “autosuficiência” em produção de imunizantes.
O presidente que mesmo epidermicamente se solidarizou com as milhares de vítimas da covid é um contraste com o Bolsonaro do “e daí”, do “país de maricas” e do “eu não sou coveiro”.
O Bolsonaro encastelado na sua redoma ideológica sem qualquer diálogo ou entendimento com os demais entes da federação ficou para trás hoje quando o presidente se reuniu e bateu fotos com os chefes do Legislativo e do Judiciário para, simbolicamente, formar um comitê de ações. Com um ano de atraso.
O presidente que falou à Nação em tom de distensionamento, fazendo o maior esforço do mundo, não parece o Bolsonaro da corda esticada no dia do seu aniversário, falando para uma multidão de admiradores em frente ao Palácio da Alvorada.
Um conversa com seus militantes, para não chamar de fanáticos incondicionais. A esses, o capitão diz o que eles querem ouvir. No script populista, promessas de amor patriótico e heróica disposição de luta pelo “povo”. A galera vai ao delírio.
O outro, quando a coisa aperta, se comunica como chefe de Estado. Nesse figurino oficial, veste o terno de presidente e dá uma satisfação aos setores que não residem na sua caverna ideológica. É um comunicado mais geral para a faixa crítica e desapaixonada da sociedade. Felizmente, a maioria.
São personas antagônicas, mas são a mesma pessoa. E são, igualmente, peças da mesma estratégia de sobrevida política.
O de ontem e de hoje é o que mais parece um presidente, dizendo o que se quer ouvir de um presidente e agindo como se espera de um presidente. Mas, quanto tempo dura até o outro roubar a cena de novo?
