Ninguém deve esperar do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, eleitor de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, um cavalo de pau brusco contrariando o chefe na nova condução do enfrentamento à pandemia no Brasil.
Do mesmo modo, nenhum bolsonarista radical deve contar com um ministro replicando crendices ideológicas, ignorando a aplicação de medidas restritivas, quando a situação prescreve, e o uso da máscara como prevenção. Muito menos estimulando aglomerações no pior momento da crise sanitária do país.
Não se pode estranhar a declaração de Marcelo quando este diz: “Lockdown não é política de governo”. É o óbvio. O fechamento total das atividades é medida extrema, quando todas as outras falham. É a exceção, não a regra.
E ao expressar a palavra “continuidade”, o cardiologista apenas repetiu o tom dado por Bolsonaro no anúncio da substituição, um termo estratégico que evita enfraquecer o missionário general na saída e assinar culpas do governo. Funciona mais no sentido político-diplomático do que administrativo.
Quem conhece seu estilo e personalidade, tem sincera expectativa de que o conhecimento e a Medicina, ciência para a qual se dedicou a vida inteira desde a formação, serão sua bússola no gigante desafio de assumir às rédeas da saúde num ambiente tenso e faccionado.
Queiroga já deu sinais de que pretende chamar o sistema médico e as autoridades estaduais para o diálogo. Só há salvação com unidade de propósitos e políticas assertivas. De preferência, convergentes.
Defensor da vacinação, o novo ministro vai eleger a imunização como política número 1. Sob muito custo, o governo já compreendeu – tardiamente – que o contrário disso compromete até a reeleição. Que só pensa nisso.
Próximo ao presidente e reconhecido especialista da área, Marcelo tende a conciliar as duas condições privilegiadas. A de amigo de Bolsonaro e família e a de médico e pesquisador.
O que recomenda aos radicais dos dois lados tirarem o cavalinho da chuva. Marcelo Queiroga não é Eduardo Pazuello. E tampouco será Mandetta.