Na minha já extensa, mas produtiva e cada vez mais enriquecedora trajetória no Jornalismo, vivi e presenciei fatos na política que marcaram a vida nacional. Briguei muito, arranjei desafetos, inimigos perdi as contas.
Sérgio Guerra, que Deus chamou há sete anos, completados no sábado passado, me chamava de Maugno. Eduardo Campos, de Maligno. Entre ambos, fui testemunha de muitos diálogos ásperos. Eram amigos, mas diziam que ajudei a distanciá-los em várias ocasiões, mesmo quando Eduardo trouxe Jarbas Vasconcelos para sua aliança, depois de derrotá-lo por mais de 1 milhão de votos, vingando a derrocada de Miguel Arraes, seu avô, para Jarbas, em 1998.
De tanto conviver com Sérgio Guerra fui testemunha da sua primeira internação antes do diagnóstico de dois cânceres que enfrentou, o primeiro na cabeça e o segundo no pulmão. Era um sábado de sol iluminado em Piedade, onde morava numa cobertura à beira-mar, quando me chamou para uma conversa.
Já encontrei por lá Evandro Avelar, um dos seus discípulos mais fiéis. Tomamos café e não mais que de repente o senador começou a reclamar de tonturas, seguidas de fortes náuseas. Resolvemos levá-lo ao hospital, mas resistiu. Da sua equipe, só havia uma pessoa que ele obedecia nessas ocasiões: Caio Melo, o faz tudo dele. Acionamos Caio imediatamente. Mas Guerra insistia que ficaria bem. Caio o arrastou à força até o elevador, chegou na garagem quase o carregando nos braços.
Sérgio Guerra se internou no Santa Joana e no dia seguinte foi levado numa UTI aérea para São Paulo. A partir daí, só sofrimento com o diagnóstico de um câncer na cabeça. O senador já tinha uma saúde frágil. Diabético, só tinha um rim, se alimentava muito mal e levava, mesmo assim, uma rotina maluca na política.
Guerra se livrou do primeiro câncer por meio de uma delicada cirurgia no Sírio Libanês. Mas com o passar do tempo, o pior: outro câncer havia atingido um dos pulmões. Sérgio sempre me dizia que iria viver pouco. Não bebia, não fumava. Tinha dois grandes hobbies: cavalos de raça e assistir lutas de artes marciais pela TV e ao vivo também.
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Sua morte teve ampla repercussão. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assim se manifestou: “A vida pública brasileira acaba de perder um de seus mais competentes e dedicados personagens. No período em que, por longos anos, Sérgio Guerra dirigiu o PSDB conseguiu rearticular o partido e dar-lhe enraizamento nacional. Como amigo, sempre foi atento e devotado. Em um momento no qual a vida política brasileira carece de pessoas com estas características sua perda é inestimável. Deixo registrado meu pesar de amigo e de brasileiro. Sérgio Guerra fará muita falta”.
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