I
Quando o primeiro bloco
passar na rua,
marcarei o passo
num verso comovido.
Rasgarei a máscara
de antigos carnavais
e me lançarei no perfume
das marchas agitadas
do coração
em lugar de desfilar
pela avenida.
Brincarei nos três dias
meu sonho do ano inteiro
sem chorar na quarta-feira.
II
A folia que me assalta,
sem confete e serpentina,
dispensa o Zé Pereira
e a fantasia.
Dispensa o Pierrot e a Colombina,
o frevo e a festa,
o samba e o susto.
Dispensa tudo que é três dias.
Na solidão tecida,
a folia que me assalta
tem gosto de quarta-feira
É carnaval feito de cinzas.
III
Não fui rei
de outros carnavais,
mas guardei a coroa
de anônimo folião:
saudade alguma do que passou.
Fiz do batuque cardíaco
o trio-elétrico que me levou
à vida
em lugar de me perder na multidão.
Finalmente se estragou a fantasia.
e do samba que não fez escola
eis o enredo que restou.
(De A geometria da paixão, 1986)
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