Todo mundo da rua Ana Rocha ía à calçada. Ao menor sinal do tarol, olhares curiosos se esparramavam de uma ponta à outra.
O ritual começava quando os tambores explodiam em frente ao serviço de som A Voz Alternativa, a sede do bloco que enfeitava nossas fantasias de criança.
Também na calçada, debaixo do pé de castanhola de Fátima Braga, postei-me em efusiva excitação.
Avistei de longe uma imagem que substituía o contentamento por preocupação. Um homem cambaleava à frente dos instrumentistas e passistas.
Também estava fantasiado, mas com marcas vermelhas por todo o corpo. Era um bêbado? Estava ferido?
Quanto mais se aproximava, mais o pânico aumentava.
E lá vinha ele por cima das calçadas, trôpego… Até que, de perto,o reconheci. Era Gué Morais frevando de um jeito todo particular.
Alívio.
Dalí para frente, fui mais um na molecada a acompanhar, entre sorrisos e pulos, a Juventude Dourada, em cada beco e em cada parada nas casas que festivamente recebiam o grupo liderado por Dionízio Gomes, carnavalesco, político, advogado, jornalista.
Dava gosto ver os integrantes pintados e vestidos à caráter. Era único, singular. Uma magia que só se repetia uma vez por ano, a cada carnaval, pelas ruas de chão batido e sem calçamento do distrito de Marizópolis.
Poeira e lembranças que ficaram na ‘parede da memória’, nos estandartes da nostalgia. No silêncio deste carnaval, eu escuto aquele som e vejo aquele tempo. Ainda toca em mim.