Quando há muito para dizer, pouco a falar nestas horas. A ferramenta escassa do jornalismo – o escritor das urgências – é essencialmente limitada.
Mas, o que há de ser feito? A palavras são suturas, na ausência de cirurgia mais eficaz.
José Targino Maranhão, 87 anos. Viu de tudo dessa história mais recente. Testemunhou o fim da Ditadura de Vargas, o Golpe de 1964, sentiu na pele o peso da repressão política, fora uma das vítimas, assistiu ao Colégio Eleitoral, a morte de Tancredo, o mandato tampão de Sarney e o impeachment de dois presidentes da Era Democrática.
Foi de tudo na vida pública da Paraíba e colecionou diplomas. Deputado estadual, federal, vice-governador, governador três vezes e senador duas.
Essa bagagem era um senhor diferencial. Mas, a caraterística marcante era do traço da personalidade e formação. O tempo apurou.
Numa Paraíba visceral, Zé Maranhão era cerebral, sereno, sensato, temperado. Um moderado por natureza. Equilibrado na sua inteireza. Não se tem notícia de flagrante noutro tom. Sempre cônscio de si, da expressão facial ao tom de voz.
Nas entrevistas, até nos momentos de tensão política e provocação jornalista, impunha seu limite à retórica. No máximo, ironia refinada, um recurso que sempre se valia para refutar, rebater.
Um controle absoluto das emoções, reverberado na paixão pela aviação, atividade que flerta com o perigo e a razão em nível desafiador.
Deixou marcas administrativas por todos os cantos do estado que governou. A visão estruturante ficou na arrojada política de recursos hídricos (barragens, canais, adutoras), hospitais e estradas.
Viveu e morreu para o seu MDB, um raro caso de amor, dedicação e fidelidade, um resistente no carnaval da política. Um dos últimos moicanos.
Como na vida e na política, no jornalismo conviveu e suportou os contrários. Soube viver até morrer!