Sou daqueles que não consegue lembrar bem nem o número do próprio endereço.
A placa do carro pior.
Graças a Deus, guardei no juízo o CPF, de tanta e recorrente precisão.
Começo de manhã, o telefone toca. Do outro lado da linha, alguém pergunta:
– Lembra o que você estava fazendo sete anos atrás neste mesmo dia de hoje?
Me atrevi a arriscar uma hipótese já sabendo que a chance do acerto era próxima de zero. Como suspeitei, minha resposta foi do tipo nada a ver.
– Há sete anos você estava internado com pneumonia e derrame pleural e eu fui visitá-lo na Unimed. Aqueles remédios serviram para de alguma forma fortalecer seu sistema de defesa contra doenças respiratórias, como a dessa pandemia.
A ficha caiu e a memória recuperou a semana de internação sob os cuidados do Doutor Alexandre Araruna, um dos melhores profissionais da área.
Nunca lembraria do período exato assim à queima roupa, não fosse a prodigiosa agenda do ex-senador e empresário Roberto Cavalcanti. Era ele do outro lado do telefone.
A generosa e diplomática ligação era para expressar, sabiamente, que a data deveria simbolizar para mim uma vitória particular.
Dei-lhe toda razão.
A rememoração trouxe-me dupla surpresa.
A lembrança do livramento e a constatação da disciplina espartana do interlocutor nos registros de fatos que, no primeiro momento, parecem banais, mas lembrados anos depois ganham outro significado afetivo e histórico.
O telefonema terminou com outra descoberta. O homem do Correio anota mesmo tudo no seu caderno. De bom e de ruim.