As boas lembranças da vida são um sol que rompe dias cinzas. Um afago na alma, elixir para o espírito.
Uma recordação privada amanheceu ontem páginas de nostalgia no diário da desembargadora Fátima Bezerra, mulher do senador José Maranhão, que convalesce num leito de UTI em São Paulo.
Companhia do marido e paciente nas últimas desertas semanas, doutora Fátima viajou no tempo e desembarcou na fazenda São Judas Tadeu (TO), destino do casal em épocas de férias e onde já viveram o despojado descanso em singelo ambiente e despacharam debaixo de sombras de árvores.
É o jeito Maranhão de repousar – conta ela. Trabalhando.
Num rasgo de memória, lembrou uma cena especial na companhia do esposo e narrou uma passagem icônica que diz muito da personalidade do político mais longevo em atividade na Paraíba.
Um parto realizado pelas mãos do próprio Zé. Foi o que ela lembrou na solidão da espera. É o que ela conta depois deste ponto.
Férias! Paris? Dubai? Ilhas Maldivas? Todos os lugares, encantadores. Mas, nunca fizeram parte de nossas vidas. Não que eu não desejasse, por exemplo, ter ido ao Vaticano à canonização de Irmã Dulce.
Faltavam- nos oportunidades, planejamentos e incentivos mútuos. Embora pensando nos meus processos (deixá-los atualizados), cobrava- lhe algumas vezes. Ele, sempre trabalhando. O trabalho é seu lazer. O trabalho é sua satisfação. E meus sonhos de passeios em família eram sempre adiados.
Porém, recebo presentes extraordinários do meu marido: o pôr do sol na fazenda São Judas Tadeu, Tocantins, abençoando nossa humilde estadia, tal qual cenários do filme “E o vento levou” de Margaret Mitchell.
No alpendre da casa, antes do cair da noite, despachos. E aquele escritório ao ar livre, torna- se o seu paraíso na terra.
Voltamos aos bons e velhos costumes da leitura. Reli Confissões de Santo Agostinho, História de uma Alma, O Silêncio de Maria e outros livros.
Certo dia de verão, quando o trovão rebombava no ar, chega o administrador: o bezerrinho vai nascer morto! Não vai dar tempo do veterinário chegar!
Após uma hora, José Maranhão volta pra casa e diz: fizemos o parto. O “bichinho” estava enlaçado. É fêmea e lhe dei o nome de Esperança.
Pra que viajar pelo mundo se pelas mãos do meu amado o mundo celebrava o mistério da vida? Ali estava a melhor obra de arte no mais suntuoso palácio. Num curral, a esperança renascia e nos alegrava por completo.