O estilo do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, avisa que uma das mais antigas ditadura do planeta decidiu redesenhar com o cinzel da arrogância o perfil do seus representantes no exterior. Até recentemente, eram tantos sorrisos e mesuras que os diplomatas daquele país pareciam pedir licença até para dizer “boa noite”. Agora, embaixadores a serviço do ditador Xi Jinping atropelam tanto as boas maneiras quanto cautelas elementares com o desembaraço de novo-rico convidado pela primeira vez para uma festa de aristocratas.
Wanming aperfeiçoou o estilo entre 2014 e 2018, quando comandou a embaixada em Buenos Aires. Fluente em espanhol, em conversas reservadas ou mensagens agressivas nas redes sociais, ele transformou o poderio econômico chinês num instrumento de chantagens políticas. Sua façanha mais notável foi induzir o governo argentino a engolir o acordo para construção, no deserto da Patagônia, de uma base de satélites chinesa.
Num artigo publicado na Gazeta do Povo, com o título “O ano do rato”, o jornalista Leonardo Coutinho descreve o espanto do presidente Maurício Macri ao topar com detalhes do acordo. Um deles: os argentinos não podiam ter acesso às instalações ainda em obras. O presidente recém-empossado, inconformado com a perda da soberania sobre parte do território nacional, determinou à chanceler Susana Malcorra que marcasse um encontro com o embaixador.
Risonho, Wanming prontificou-se a ouvir as reivindicações de Macri, mas recomendou a Suzana que chamasse a atenção do presidente para algumas cláusulas do contrato. Conjugadas, elas estabeleciam que a revisão do acordo sobre a base implicaria o reexame de todos — todos, vale repetir — os acordos vigentes entre a Argentina e a China. Estariam em jogo, portanto, bilhões de dólares em empréstimos e investimentos. Emparedado, Macri recolheu-se ao silêncio. E a China infiltrou na América do Sul uma base militar controlada inteiramente pela ditadura.
Não foi por acaso que Wanming desembarcou no Brasil logo depois da posse de um novo presidente. Já aprendeu português, esbanja beligerância na internet e não para de ampliar o acervo de hostilidades ao governo Bolsonaro. A missão do embaixador é transformar o Brasil num dócil aliado da China. Para tanto, como agora vai ficando claro, não hesita em utilizar como armas de convencimento até a entrega de vacinas contra a COVID-19. No calendário chinês, 2020 foi o ano do rato. Para Wanming, o ano do rato não tem prazo para acabar no Brasil.
R7