Analistas de política externa são unânimes nesta quarta-feira em atribuir a erros da política externa brasileira parte das dificuldades do Brasil nas negociações por insumos e vacinas. O país teria perdido uma importante arma – o diálogo diplomático – tanto no caso da Índia, que optou por formar um cinturão de imunidade em torno de seu território, ao priorizar países vizinhos na exportação, quanto no caso da China, que reage com frieza à urgência brasileira por matéria prima para a fabricação de vacinas.
A situação terá reflexos diretos sobre a população afetada pela Covid-19 e ameaça causar um colapso na recém-iniciada campanha de imunização nacional por falta de vacinas a curto prazo. Não há insumos básicos nem mesmo para que o Instituto Butantan atenda ao contrato firmado com o ministério da Saúde para a produção de 46 milhões de doses em três meses, nem para a fabricação das 100 milhões, em seis meses, como se espera da Fiocruz.
Ao longo de 2020 os ataques de familiares de Bolsonaro, do próprio presidente e do chanceler Ernesto Araújo à China estremeceram as relações com o principal produtor mundial de vacinas, obrigando a embaixada chinesa em Brasília a sair do tom na defesa de seu país. A Índia, com seus quase 1,4 bilhão de habitantes, é conhecida por adotar forte pragmatismo em posições sanitárias. E também cobra a conta por divergências em posições da diplomacia brasileira em questões relativas à gestão global da pandemia.
A posse de Joe Biden nesta quarta, na Casa Branca, acentua o isolamento diplomático do Brasil e colabora para a fragilização de Ernesto Araújo no governo. Expõe também a atuação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A gestão Biden já anunciou que o país vai reagir a políticas ambientais em desacordo com a preservação, inclusive com represálias diplomáticas e econômicas.
R7