Cada um e suas circunstâncias, Jair Bolsonaro e Donald Trump viveram ontem o seu dia de rendição.
O presidente brasileiro rendeu-se à compra da vacina chinesa patrocinada pelo governador João Doria (PSDB), de São Paulo.
O presidente americano, às pressões para que condenasse a invasão estimulada por ele do prédio do Congresso.
Bolsonaro elegeu Doria como seu principal adversário na eleição do ano que vem. Faltam apenas 89 semanas.
E desde então não perde uma chance de atacá-lo. Se Doria diz uma coisa, ele diz o oposto. Se faz uma coisa, ele faz o inverso.
Foi assim ao longo da pandemia nos seus piores momentos. É assim na hora de tentar sair dela.
Doria largou na frente em busca de uma vacina. Encontrou a chinesa e o Instituto Butantan começou a produzi-la.
Quando viu que perdera a corrida da vacina, Bolsonaro autorizou o ministro da Saúde a anunciar que também a compraria.
Feito o anúncio, arrependeu-se e obrigou o ministro a dar o dito pelo não dito. O ministro foi humilhado e deixou-se humilhar.
Finalmente ontem, uma vez que tão cedo poderá contar com outras vacinas, Bolsonaro bateu às portas do Butantan.
O governo paulista está com quase tudo pronto para começar a vacinar em massa a partir do final deste mês.
O governo federal espera começar a vacinação, se possível, alguns dias antes. Briga pela primeira foto de um brasileiro vacinado.
Desde novembro, quando foi derrotado pelo candidato democrata Joe Biden, Trump travou a batalha perdida para anular a eleição.
Se há 4 anos jamais passara pela cabeça dele que poderia vencer, desta vez nem em sonho admitiu que perderia.
Fracassaram na justiça todas as tentativas de anular a eleição. Foram meses de mentiras diárias e de ausência de provas.
O que lhe restava fazer, ele fez anteontem: reuniu 30 mil adeptos em Washington e incentivou-os a marchar sobre o Congresso.
A invasão a um dos símbolos da democracia americana resultou em 4 mortos, dezenas de feridos e alguns presos.
Diante do cataclismo que isso provocou dentro e fora dos Estados Unidos e do risco de ser processado, Trump falou fino.
Mandou a sua porta-voz condenar duramente os vândalos, chamados por Biden de “terroristas domésticos”.
E gravou um vídeo onde se disse ultrajado pelas cenas de violência que deixou o mundo de boca aberta. Teve o cinismo de afirmar:
– Os manifestantes que invadiram o Capitólio violaram o seio da democracia americana. Não representam nosso país. Irão pagar.
Podem não representar o país, mas parte dele representa, sim, justamente a parte que votou em Trump e ainda o apoia.
Curioso é que o recuo de Trump deixou Bolsonaro na mão. Bolsonaro foi o único chefe de Estado a dar razão a Trump.
No dia da rendição dos dois, o Brasil ultrapassou a marca dos 200 mil mortos pelo vírus. E, em 24 horas, nos Estados Unidos, o vírus matou mais 4 mil pessoas.
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