Ninguém, quase ninguém, escapa da polarização política no Brasil. Os artistas também são chamados ao palco e muitos entram na peça. Uns por ideologia. Outros por modismo.
Na melodia das polêmicas, a cantora Elba Ramalho voltou à cena. Em vídeo, tentou expressar uma visão espiritual de quem acredita que há influência para além do humano na pandemia e enxertou uma frase em que autoproclama os cristãos, como ela, “o calo dos comunistas”.
A fala infeliz e mal colocada serviu para manchetes exageradas do tipo: “Elba diz que coronavírus é ação de comunistas”. Estrago feito, mesmo com nova explicação para o raciocínio que ensaiou.
O compositor Chico César, declaradamente de esquerda, causou também. Reagiu com aspereza em grau máximo a um fã que sugeriu mais poesia na beleza de suas músicas, e menos letras políticas engajadas.
O discurso que fez nas redes, em resposta, também virou manchete. E estandarte para os que andam com sangue nos olhos feito ele.
O vírus da radicalização do Brasil é tão potente que coloca em rota de colisão gente como Elba e Chico, amigos próximos que se frequentam carinhosamente na vida pessoal e profissional.
São compadres.
Para ela, os comunistas, o amigo Chico incluso, são alvos a serem combatidos. Para ele, opiniões como a da parceria de trabalho e conterrânea são coisas de bolsominions e demônios.
Imagine o clima entre os dois em Trancoso (BA), quando uma cifra política entrar na harmonia das conversas. Uma desafinação total.
Bem fez outro paraibano, o veterano Geraldo Vandré, quando, no auge da radicalização, aqui mesmo em João Pessoa, provocado por uma pergunta que reivindicava posição, declarou com refinada ironia: “Na mão esquerda, trago uma certeza. Na direita, uma garantia. Mas posso trocar de mão”.