Em 1º de janeiro de 1961, quando os guerrilheiros vitoriosos entraram na capital de Cuba, havia uma ditadura a desmontar, prostitutas demais em Havana e uma economia dependente da cana-de-açúcar. Passados 61 anos, há em Cuba uma ditadura comunista a derrubar, prostitutas demais em Havana e uma economia que depende da monocultura da cana. A história nem sempre se repete como farsa. Pode ser uma reprise mais angustiante da tragédia anterior.
Conheci Cuba em 1987. Nunca mais quis repetir a dose. Sete dias por lá bastaram para constatar que não há valor maior que a liberdade. Que as deformações sociais podem e devem ser eliminadas sem a supressão do estado democrático de direito. Que governantes fantasiados de homens providencias são apenas patéticos. Que a vida numa ditadura é uma sequência de perdas e renúncias, impostas pelo Estado onisciente, onipotente e onipresente.
Aprendi naquela semana que o regime cubano emagrece. Nas ruas só havia gente magra. Descobri no jantar de despedida que os gordos estavam todos em altos cargos do governo, distantes dos conformados com décadas de racionamento. “Se o povo visse isso, a ditadura naufragaria no dia seguinte“, disse a mim mesmo ao contemplar o cenário de filme épico sobre o Império Romano. A decoração incluía cataratas de frutos do mar e iguarias desconhecidas pela gente comum.
Lula ignora o mundo dos cubanos sem privilégios, sem horizontes, sem esperança. O ex-presidiário foi desfrutar de férias em Cuba, levando junto a namorada Janja, porque o universo que frequenta na ilha-presídio é privativo dos amigos do rei.
Enquanto o pesadelo durar, Lula pode passear por Havana sem ouvir as verdades que o acuariam se desse as caras numa rua do Brasil. Lá, ele é um companheiro injustamente preso por motivações políticas. Aqui, é apenas um corrupto, resgatado da gaiola por cúmplices alojados no Supremo. Sempre será.
R7