Quando o aniversário se aproximava, a palpitação aumentava. Estranho para os outros. Pra mim, o normal era não gostar daquela festa.
Não via graça. Aliás, achava que seria a própria graça dos outros. Sentia-me sem o menor jeito para aquela coisa que juntaria a vizinhança toda e me puniria com o centro das atenções.
Um terror completo para um menino tímido e inseguro.
As fotos no baú das recordações provam. Dona Marizete, minha mãe, precisava agarrar numa das minhas mão para garantir que o bolo seria cortado, mesmo a contragosto do aniversariante.
A outra mão que sobrava ia com dedos à boca para amenizar aquela agonia agravada pelos flashes da câmera de Loreta ou Valmira, nossas boas fotógrafas da época. Só durava poucos segundos, mas parece que doía uma eternidade.
Um milagre começou a ser gerado desde o grande encontro com o microfone. Só essa santa intimidade foi capaz, ainda na adolescência, de encarar audiências em alto-falantes e plateias em comícios.
Uma transformação inexplicável e assombrosa acontecia, magicamente. De Bruce Banner ao Incrível Hulk, do tímido ao voraz disparador de textos, improvisos e bordões.
Uma metamorfose ainda maior para quem um dia conheceu o filho encabulado de Marizete e Nuita, e hoje ler ou ver o comunicador, apresentador de rádio e televisão, o entrevistador e o mediador de debates eleitorais.
Milagre para os que se lembram do menino que, na fuga dos desconhecidos, se enrolava dentro de uma rede em casa e de quem quase nunca se ouvia a voz para nada. A palavra, antes represada no açude das emoções, virou prazer, ofício e sustento. E agora inunda.