João Dória (PSDB), o cosmético governador de São Paulo, crítico da reconhecida insensibilidade de Bolsonaro, o presidente que desliza pelo Paranoá enquanto milhares morrem de covid, foi o o que embarcou para descanso em Miami, destino dos magnatas da elite brasileira, da qual o tucano integra desde sempre.
No seu descaso, Bolsonaro come cachorro-quente na periferia de Brasília. Ou anda de motocicleta no litoral paulista. Mistura-se com gente. O seu opositor vai à fina flor norte-americana. Povo, só quando precisa gravar cena de mangas arregaçadas num mercado popular para algum guia eleitoral.
A revoada do tucano se deu no instante em que seus conterrâneos voltam a ser ameaçados pelo crescimento de casos e horas depois de decretar fase vermelha no estado. Quando o vírus volta com tudo, Dória viaja.
É o general que deixa os soldados no front em plena guerra. Nesse caso, um combate inflado por sua decidida estratégia de polarizar com Bolsonaro na pandemia, o que o faz com competência política.
Por azar (ou sorte?), seu vice pegou covid e a reação irada das redes obrigou o plástico governante carimbar imediata passagem de volta. Estrago feito.
A atitude de tirar férias no caos denuncia mais do que o ato em si. Nela, esconde-se uma casta artificial, almofadinha, profissional, aquele tipo de político que nunca na vida precisou – ele mesmo – abrir uma porta ou comprar um pão, e cuja ficha de distância da realidade dos eleitores ainda não caiu, apesar do recado recorrente das ruas.
É o cansaço dessas posturas e figuras principescas que parem líderes do naipe do limitado Bolsonaro, com os quais – para o bem ou para o mal – as pessoas se identificam cada vez mais. Porque representam o antônimo do que cada vez menos querem.