"Sonho sequestrado", o necessário livro de um autor-testemunha – Heron Cid
Bastidores

“Sonho sequestrado”, o necessário livro de um autor-testemunha

21 de dezembro de 2020 às 12h07 Por Heron Cid
Capa do livro de Marcondes Gadelha, um dos três articuladores da frustrada candidatura presidencial de Sílvio Santos, em 1989

A narrativa eletrizante, o conteúdo sedutor e a riqueza de detalhes em “Sonho sequestrado” conseguem surpreender até quem já conhece a bagagem cultural e intelectual de Marcondes Gadelha, o autor do livro que conta a saga da tentativa de candidatura presidencial de Sílvio Santos, o mais famoso, talentoso e popular apresentador de televisão do Brasil.

Li-o de um gole só, de tão eficaz a condução de Gadelha na tarefa de traduzir um emblemático fato político, três décadas depois, o que evidencia sua prodigiosa memória e compromisso com a história.

O que Marcondes narra, com o benefício de ser autor e testemunha, não poderia jamais ficar retido nos seus arquivos particulares. O livro recém-lançado é, antes de tudo, de interesse histórico e essencial para compreensão da nossa jovem e tensa democracia.

De episódios registrados à época pela imprensa, com o frisson do inusitado da inserção do comunicador na primeira eleição direta pós-ditadura, a bastidores, como a cinematográfica fuga de Marcondes e Sílvio de um prédio residencial, em Brasília, para despistar em alta velocidade de uma matilha de jornalistas de plantão, todos prontos para flagrar o encontro que teria força para mudar a eleição presidencial de 1989.

E teria mesmo, não fosse a apoteótica conjunção de forças políticas e empresariais que removeu do caminho uma candidatura sedutora das massas, arrebatadora de um público que via em Sílvio o “sonho brasileiro”, a materialização da possibilidade máxima de ascensão social pela força do trabalho e empreendedorismo.

Em sua indispensável obra, Marcondes não se preocupa apenas em contar tudo e revolver os anais. Ele atualiza a vida e fim de personagens da trama que sepultou a candidatura do “homem do baú”, depois de mobilizarem os porões da política e da justiça na silenciosa e letal operação.

O drama teve no paraibano, senador de então e um dos três articuladores, a digital preponderante nas costuras do bombástico lançamento e, também, desolação pessoal, do frustrante final.

“Sonho sequestrado” é um livro necessário. Nele, aprofunda-se sobre a história política nacional, conhece-se mais do homem (Sílvio Santos) por trás do carisma sem precedentes e bebe-se na fonte pura de uma testemunha privilegiada, tal qual a mente do autor. Quem admira a verve do político, vibra com o escritor Marcondes Gadelha.

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