Maio de 2006. Uma colisão entre caminhão e ônibus escolar matou 13 estudantes de Vieiropolis, região de Sousa, sertão paraibano. As vítimas eram transportadas num famigerado pau-de-arara, atraso que ainda existia naqueles anos.
Em julho de 2007, um avião desgovernado da TAM matou 199 pessoas na pista do aeroporto de Congonhas em São Paulo.
Na sexta passada, a Secretaria de Saúde da Paraíba registrou 16 novos óbitos pela covid-19, em 24 horas. Num dia, é mais do que acidente assassino de crianças e jovens que chocou, 14 anos atrás. Até aqui, o coronavírus matou 3.539 paraibanos. É o mesmo que 272 tragédias de Sousa.
No último dia 17, o Brasil confirmou, num só dia, 1.092 mortos em decorrência do vírus. Ontem foram 408. São pelo menos dois desastre aviões da TAM. No mesmo dia.
Até agora são 186.764 mortos vítimas do novo coronavírus no Brasil. O equivalente a 938 quedas do voo 3054.
Rostos cada vez mais familiares entram na lista. Os atores Nicete Bruno e Eduardo Galvao e o cantor Paulinho do Roupa Nova nessa última semana, para citar alguns famosos. Cinco médicos conhecidos na semana passada e um juiz hoje, em João Pessoa.
Não é possível minimizar o tamanho da gravidade do que nos abate. Não dá pra negar a extensão dos danos. Estamos diante de uma tragédia. E é uma tragédia todos os dias, desde março.
Quando uma autoridade, responsável por salvar vidas nesta pandemia, pergunta por que tanta ansiedade pela vacina, aí somos abatidos por outro tipo de tragédia; a do deslocamento da realidade ou da insensibilidade chocante.
Pessoas não são números.