(Marizópolis-PB) – Todo ano a visita era certa. Quando o ônibus da Gontijo estacionava na BR-230, nos dias de dezembro, anunciava a chegada.
Cresci com essa espera feliz dos parentes e familiares ausentes em São Paulo, um movimento de muitos pela sobrevivência e busca por melhoria de vida.
Tio-avô Zé Batalha, irmão de minha avó Nuita, havia deixado nossa terra sertaneja décadas antes tangido pela necessidade de um agricultor de roças incertas do incerto semi-árido.
Eu adorava ouvir suas histórias de quando partiu da Cabra Assada e desembarcou no gigante sul, com nada mais nada menos do que uma mala e a vontade de vencer.
Do emprego em fábrica de doces, ou trabalhando em indústria de panela de pressão. Quando ele contava as experiências, eu menino me imaginava também pairando em ruas distantes de Marizópolis, sendo, assim como ele, sustentáculo familiar.
Cansei de ler suas cartas para minha avó e sua irmã, contando as notícias e boas novas do longe e sempre prometendo com a família nova visita no fim de ano, a festa do reencontro.
De poucas letras e homem simples, meu tio Zé foi um lutador a vida inteira até descansar ontem no seu último suspiro, já frágil e debilitado.
Das últimas vezes, quase sem voz, me abençoou com um sussurro quase inaudível. Eu ouvia mesmo assim. Tinha o som do coração.
Deixou comigo a sua história de desbravador. Era Batalha até no nome (José Batalha de Silva), 80 anos de batalhas. Hoje, eu cruzo estradas indormidas para a despedida última desse guerreiro e o abraço solidário nos primos (Mariazinha, Inácia, Jane, Júlio e Felipe), irmãos do coração.