O legado de 2020 (por Dora Kramer) – Heron Cid
Opinião

O legado de 2020 (por Dora Kramer)

2 de dezembro de 2020 às 10h12 Por Heron Cid
Eleitores votam no segundo turno da eleição municipal no bairro da Bela Vista, em São Paulo Rovena Rosa/Agência Brasil

A lista de vencedores e derrotados, política e eleitoralmente falando, do pleito municipal já é conhecida e tem sido amplamente discutida. Falta falar sobre outros aspectos importantes decorrentes da eleição encerrada neste domingo 29.

Um deles é o efeito produzido pela entrada em vigor da nova regra que proibiu coligações proporcionais (no caso, vereadores), com a redução do número de partidos com representação nas câmaras municipais. Na próxima, em 2022, isso será sentido com mais visibilidade nas assembleias legislativas e na Câmara dos Deputados. Junto com o aumento do percentual de votos exigidos dos partidos (cláusula de desempenho, ou de barreira), a tendência é de enxugamento e de consequente redução da fragmentação partidária.

A eleição de 2020 também deixa outros legados: o avanço (lento, mas existente) da diversidade étnica e de gênero nos vereadores além da introdução de formas novas como os chamados mandatos coletivos; o destaque conquistado por lideranças de esquerda fora do PT; o relativo equilíbrio na conquista de prefeituras, pois ninguém foi varrido do mapa e ninguém ganhou sozinho não sendo, por isso, apontar um único vencedor ou uma força política hegemônica.

Para os que enfrentaram situações mais adversas, os petistas e os bolsonaristas, ficam as lições.

Ao PT a urgente necessidade de parar de olhar o sol sob o filtro da peneira e tratar de se adaptar aos novos tempos começando por reconhecer a trajetória descendente e o fato de que a liderança de Lula não é capaz de contê-la.

Ao presidente Jair Bolsonaro e sua área de influência fica a evidência de que a banda já não toca na toada tocada em 2018. O peso da Presidência conta, mas não é suficiente para garantir competitividade em 2022 se a tropa não for reorganizada sob um guarda-chuva partidário consistente e se Bolsonaro não adotar critérios estratégicos para reforçar a caminhada a fim de não passar para a história como um mero ponto fora da curva. Do contrário, arrisca-se a bater continência ao ditado segundo o qual um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

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