Eu que me livrei de raios, de açudes sangrando, dos sonhos sem sol, boto a cabeça pra pensar e, apesar de interromper sentimentalidades, não sei por onde começar ou se começaria tudo outra vez.
Eu sozinho aqui na madrugada, escuto baixinho a voz de Elizeth Cardoso cantando “Canção do Amor Demais” de Vinícius e Jobim, lembrando de um amigo que está longe de mim – quase uma cegueira, quando a gente não consegue matar a saudade Praieira.
Não, não venha dizer que eu estou atormentado, mas são demais os perigos dessa vida…
Não aguento saber que amigos estão doentes, numa corrente de espaços vazios que passam na minha frente e eu não posso fazer nada.
Amar sem limite. Um milagre, quando milagres acontecem e não precisa acender velas, talvez botar para tocar velhas canções – tantas vezes eu quis soltar um foguete imaginando que você já vinha, sei lá, ou todos os discos de Jobim, que não cabem no chapéu do meu amigo PR.
Tantos remédios que as Pessoas tomam hoje, as que tiveram a sorte de nada perder, as que estão perdidas e muitas não sentem nada e, ao meu ver, no meu pensamento, desapareceram, perderam seus amores ou a grande vontade de seguir todos os vestígios de fugas.
Agora me vejo perplexo: Ou, como dizem, “chocado”. Meu amigo não me liga mais e eu só consigo falar com ele, quando a filha telefona e diz, repetindo a velha frase de meu pai: “K, tem uma pessoa maravilhosa aqui querendo falar com você”.
Bastava não estar acontecendo nada, talvez um apagão, sem querer saber dos Poetas, de nada, apenas a Pessoa no estado hibrido, mas atenta. Tenho saudades de você, PR!
A agonia do meu dia, na “Manhã de Carnaval” de Antônio Maria (foto), meu bem, seu bem, nosso mal. Será que o vírus destrói tudo? Primeiro passo: enviar cartas amorosas, dizer coisas simples a quem se ama, que saiu o disco novo de Toquinho, com poemas de Paulo César Pinheiro. Dizer que a vida nos espera naquele casarão do centro da cidade.
Segundo passo, dois pra lá, dois pra cá. Insistir, procurar, ligar, ir até a calçada da casa da Pessoa, acenar pra ela, eu faço isso, eu tenho feito isso, eu nunca vou deixar de fazer isso (minha eterna crença no Poder da Palavra), que me consola, mas já não me coloca no lugar da dor do outro. Puxa vida!
No terceiro passo, que seria a colheita, a colheita já foi feita, só falta a gente se servir. Alô, você está aí?
Kapetadas
1 – Bom dia, sobreviventes de novembro.
2 – Quantas línguas existem? Muitas né? Ou as suficientes para que ninguém consiga se entender.
3 – Som na caixa: “ Ah, minha amada/De olhos ateus/ Cria a esperança/ Nos olhos meus/ De verem um dia/ O olhar mendigo/ Da poesia/ Nos olhos teus”, Vinícius e Paulo Soledade.
MaisPB