Os que cercam o presidente Jair Bolsonaro concordam sobre o principal motivo que o levou a viver um dia de cólera na última terça-feira: medo. Medo do que possa acontecer com seu filho mais velho, o senador Flávio, investigado por corrupção. Medo do que o futuro reserva ao seu governo. Medo de perder em 2022.
E concordam que a explosão de cólera conseguiu deixar Bolsonaro mal ao mesmo tempo com os militares que sempre o apoiaram, a China, o maior parceiro comercial do Brasil, e o governo de Joe Biden que em 20 de janeiro próximo tomará posse como novo presidente dos Estados Unidos. Um feito e tanto, como se vê.
Quando as Forças Armadas por aqui foram alvo de piadas e de deboche nas redes sociais? Não havia registro disso. Passou a haver depois que Bolsonaro, em discurso no Palácio do Itamaraty, e a propósito da pressão de Biden para que cuide melhor da Amazônia, afirmou que se a diplomacia fracassa, resta a pólvora.
Com isso expôs a fragilidade bélica das Forças Armadas brasileiras que gastam menos com investimentos em armas e mais com o pagamento de pensões vitalícias e cônjuges e filhos de militares mortos. Falta pólvora para que façam a guerra por mais de uma hora, como já observou o general Maynard Santa Rosa.
Não bastasse, Bolsonaro declarou que não discute nenhum assunto com seu vice, o general Hamilton Mourão. E logo na semana em que Mourão, responsável pelo comando do Conselho Nacional da Amazônia, percorreu parte daquela região em viagem de relações públicas acompanhado por embaixadores de países europeus.
Por que diminuir o papel de Mourão numa hora dessas? Além de ser uma mentira. Há assuntos que Bolsonaro discute, sim, com o vice. E Mourão tem se comportado como um aliado dele junto aos seus pares. Para o público externo, atua como uma espécie de tradutor de Bolsonaro, suavizando suas falas mais infelizes.
O presidente bateu de frente com a China duas vezes. A primeira ao celebrar o falso insucesso da vacina Coronavac, sugerindo que ela pode matar e provocar anomalias. A segunda quando em cerimônia no Itamaraty o governo brasileiro anunciou sua adesão ao programa americano de combate ao 5G chinês.
Biden, a exemplo de Donald Trump, deve ter gostado de mais um gesto de rendição de Bolsonaro aos interesses dos Estados Unidos. Nem por isso vai desistir de impor sanções econômicas ao Brasil se a Amazônia continuar sendo desmatada e incendiada ao mesmo tempo. Ou diminui o ritmo atual de degradação ou haverá sanções.
Pergunta que teima em ser feita: o que Bolsonaro ganhou com o que fez? Sequer uma trégua da justiça no caso do sufoco em que vive o Zero Um. O Conselho Institucional do Ministério Público Federal determinou a reabertura de inquérito eleitoral contra Flávio rejeitando o pedido da defesa para que fosse arquivado.
Veja