Alguma surpresa na escolha do presidente Jair Bolsonaro pelo terceiro colocado na consulta interna da UFPB para reitor? Nenhuma. Bolsonaro já procedeu assim noutras universidades federais.
O presidente é obrigado, legalmente, a nomear o primeiro colocado em listas tríplices? Não. Pode escolher, inclusive, nomes fora dos relacionados em eleições internas, como fez com Augusto Aras, escolhido a dedo para comandar a Procuradoria Geral da República.
O ex-capitão implanta, ao seu modo e na conveniência do poder de plantão, um estilo particular e disruptivo de escolhas. É democrático? Também, não.
No jeito Bolsonaro de governar, as consultas internas viraram meros rituais. O seu instinto suspeita que o ‘aparelhamento’ progressista em universidades e instituições da República impede qualquer chance de vitória de perfis alinhados com a nova ordem.
A tática, portanto, é política. Limpar a área pelo poder da caneta até que seja possível um dia pelo poder do convencimento.
Bolsonaro combate o aparelhamento da esquerda com a estratégia de aparelhamento pela direita. É aí onde está a ‘coisa’.
Já pensou se o governante do momento tivesse a mesma prerrogativa em relação às eleições? Mal comparando, seria como o então presidente Michel Temer conferir a si o direito de escolher Henrique Meirelles, do seu MDB, para sucedê-lo, o quinto colocado na ‘consulta’ popular de 2018, com apenas 1,20% dos votos do distinto público.
Isso, óbvio, não se aplica na democracia. O exemplo esdrúxulo só faria sentido num regime autoritário.
No caso da UFPB, a opção pelo professor Valdiney Veloso faz parte do script de capilarização bolsonarista nos espaços de influência. E essa ocupação ocorre atropelando as vontades das maiorias na eleição da comunidade universitária (professores, servidores e alunos) e do conselho universitário, duas instâncias em que Veloso ficou terrivelmente distante da primeira colocação.
Se o método de Bolsonaro, apesar de legal, é antidemocrático e equivocado, erro maior é de um professor universitário aceitar participar dessa tática, mesmo após se submeter às regras consagradas pela própria instituição a que serve e integra.
Assumir a reitoria de uma universidade pública pela via imperial deveria causar ao escolhido, no mínimo, constrangimento, quando não rejeição convicta à nomeação.
Não é questão de política e nem de legalidade. É de legitimidade e de dignidade.