Curitiba reagiu à decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, de dar acesso à Procuradoria Geral da República de Augusto Aras aos dados das investigações da Lava Jato ressuscitando denúncias não comprovadas sobre o próprio Toffoli a respeito de supostas relações com empreiteiras investigadas. Mas o tiro, que ao menos até agora ficou restrito a sites na web e não alcançou a mídia tradicional, pode acabar saindo pela culatra.
É bem provável que, por recurso da força-tarefa, a liminar do presidente do STF acabe indo parar, depois do recesso, no plenário do Supremo, última esperança dos procuradores da Lava Jato para revertê-la. A aposta deles é de que, lá, configure-se a tradicional divisão entre lavajatistas e garantistas, na qual tantas vezes Curitiba, no auge do apoio popular à LJ, levou a melhor.
Quem acompanha a Corte, porém, acha que pode não ser bem assim. Antes de tudo porque a Lava Jato não parece ser mais aquela unanimidade na mídia e na opinião pública depois de desgastes diversos, que começaram com a divulgação das mensagens do site The Intercept e continuaram em episódios mais recentes. Entre eles, a suposta camuflagem de nomes de políticos como Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre em denúncias e os questionamentos a uma parceria informal com o FBI. A essa altura, tomar decisões contrariando a força-tarefa ficou mais fácil para o Supremo.
Ao lado disso, esses observadores lembram que a Corte suprema do país está num momento bem diferente. Depois de anos de hostilidades internas explícitas, há muito o STF não vive um ambiente de tanta harmonia. A ponto de expoentes dos dois grupos que brigavam em torno da LJ, como Gilmar Mendes (garantista) e Luís Roberto Barroso (lavajatista) terem voltado a dialogar.
Isso fortaleceu o Supremo como instituição e deu-lhe espaço na defesa da democracia diante das maluquices do bolsonarismo. Seus integrantes vão pensar duas vezes antes de permitir que um clima de beligerância volte a dividi-los de forma irreversível.
Os ataques a Toffoli também podem produzir reação contrária de parte dos colegas nessa fase de paz e amor supremos. As apostas são de que a maioria do STF pode ficar solidária e buscará um entendimento. Não vão brindar seu presidente, às vésperas de deixar a função, com uma vexaminosa derrota no plenário nesse assunto.
Por fim, há o lado pragmático da coisa: Aras, que não é bobo, deve mandar logo sua equipe a Curitiba para pegar o material. Quando o Supremo decidir, e se decidir, será tarde demais.