(Recife-PE) Num tempo explícito de maus feitos de políticos, roubando dinheiro federal destinado a salvar infectados pela Covid-19, contei, ontem, o exemplo do ex-prefeito de Afogados da Ingazeira, minha terra natal, João Alves Filho, então militante do PDS, que adentrou o Palácio das Princesas com uma sacola de dinheiro nas mãos para devolver ao governador a parte que sobrou na construção do fórum da cidade, mediante transferência do tesouro estadual.
Digno de louvor, de aplausos, mas o que seria regra, infelizmente foi e continua sendo exceção na gestão pública brasileira. Do mensalão para cá, passando por Lava Jato e outras cositas mais, a impressão que temos é que somos assaltados a toda hora. O suado pagamento dos impostos, ao invés de ser aplicado em obras em benefício do povo, na saúde, da educação e no combate à desigualdades, serve para enriquecer gatunos.
Mas João Alves Filho, o Joãozinho, tinha outra faceta, não admirável. Era um homem rude, muitas vezes ignorante no trato humano, de respostas secas e de poucas palavras. Cometeu a insanidade de derrubar um coreto na praça principal de Afogados da Ingazeira, que fez história e marcou uma época, que servia para tudo, desde barbearia e pequenas lojas de café a festas em que se dançava a valsa de 15 anos, de formatura ou casamento.
Mal sabia assinar o nome, iletrado, típico coronel do Sertão, daquelas que as pessoas batiam continência. A educação não foi tratada com prioridade em suas duas gestões, inclusive na primeira, na qual papai foi seu vice. Um amigo e conterrâneo, ao ler ontem o seu gesto de honestidade na devolução do dinheiro em espécie ao então governador Roberto Magalhães, recordou que esteve com ele para pedir uma ajuda na locação de um ônibus com estudantes da terra com destino ao Recife.
“Para que vocês querem estudar? Eu sou analfabeto, não sei nem assinar nem meu nome direito e já estou prefeito pela segunda vez”, respondeu, para tristeza daquele que ali estava com ele no gabinete manifestando um desejo de jovens que acreditavam que o futuro só se constrói com educação, queimando as pestanas nas bancas escolares. Mas Joãozinho era um homem de bem. Quem não tem defeitos que atire a primeira pedra.
Mesmo cometendo o pecado da falta de estimulo e do incentivo a educação, Joãozinho da minha querida terra já se perpetuou pela dignidade, pela nobreza de preferir ser um miserável honesto a um milionário corrupto e vazio. Aprendi com meu pai, que foi vice dele, que a honestidade é dignidade para vida. Nos dias de hoje, ser honesto é ser diferente.
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