Naqueles anos 90, era “o carro” mais badalado em Marizópolis. Pelo menos aos meus olhos. Tinha dos mais simples na praça de táxi fazendo a linha até Sousa, e também os mais sofisticados, com direito a rodões iluminados e adereços.
Um desses mais cuidados era do meu amigo Moura Neto. Eu simpatizei com o modelo: compacto, motor resistente e preço bom.
Mas era só um menino ficando homem. Nem sabia dirigir e nem muito menos sonhava ter o dinheiro para comprar.
O primeiro problema o amigo tratou de começar a resolver, emprestado o seu Gol quadrado branco para uns treinos.
O segundo problema só o tempo e um trabalho resolveriam.
Nas viagens de passageiro para Sousa, passava o caminho prestando atenção no desempenho de um deles dos taxistas.
Andava com Moura Neto pelos arredores de Marizópolis e ficava com aquela inveja boa danada. Sozinho, pensava comigo: “Um dia terei um igualzinho a esse”.
Até que um dia, o amigo – por pena ou solidariedade – resolveu perguntar: “Quer tentar dirigir”?
Oferecia banana a um macaco faminto.
Foi lá pelo Assentamento Juazeiro. Depois de algumas poucas e rápidas instruções, somadas ao que já havia “aprendido” em anos de observação persistente, cometi a insanidade de dirigir pela primeira vez botando o carro logo na estrada da parede do pequeno açude.
Se errasse na direção, era uma vez. A minha vida, a do amigo e a do Gol quadrado estariam em apuros.
Depois das naturais estancadas, deu certo. Não bati, não virei, não morri e nem matei.
Outra tentativa já aumentou a responsabilidade. Foi na estrada asfaltada para Nazarezinho no dia de divulgação de festa com Autair.
Ficou aquele gostinho bom no ar e o objeto de consumo na cabeça.
Desejo saciado uns dez anos depois quando, já formado jornalista e juntando as moedas de salário de repórter de rádio e na televisão em João Pessoa mais o apurado no serviço de locutor em campanhas no interior, veio a primeira realização material.
Saciado, aliás, em parte. A oportunidade que apareceu na época foi de comprar um modelo já ‘bola’, um pouco mais moderno e arrojado. E era cor de grafite.
Até já tive outros automóveis bem melhores, comprados em suaves e suadas dezenas de prestações. Mas aquele Gol quadrado branco nunca saiu do meu redondo pensamento.