(Recife-PE) Depois de quase sete anos em silêncio, forçado pela prisão fruto de duas condenações, a primeira pelo Mensalão e a segunda arrastado na Lava Jato, o ex-presidente nacional do PP, ex-deputado federal pernambucano Pedro Corrêa Neto (foto), abriu o coração, ontem, numa entrevista ao blog, com reprodução no Frente a Frente e no jornal O Poder. Bem mais magro, 72 anos, sofrendo um novo processo – agora uma execução judicial do apartamento em que mora no bairro de Boa Viagem – o ex-homem forte do Centrão faz revelações surpreendentes e diz que está sendo aconselhado a escrever um livro para contar os bastidores explosivos que viveu.
Dizem os mais entendidos da cena nacional que Pedro Corrêa conhece os dois lados da moeda como ninguém – dos atos republicanos e não republicanos, como assim costuma afirmar um outro homem-bomba, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB. Corrêa, aliás, conta na entrevista que só entrou no processo da Lava Jato pelo que considera “uma traição” de Jefferson. “Eu não tenho nada a ver com Lava Jato, entrei como boi de piranha por uma citação de Jefferson a mim e ao Janene”, diz, adiantando que até, hoje, não consegue engolir a rasteira que de quem tanto confiava e admirava.
Enquanto esteve preso ao longo dos últimos seis anos e seis meses, Pedro Corrêa viveu a experiência de abraçar o sol com a mão em vários presídios, começando pela Papuda, em Brasília, depois no Cotel, no Grande Recife, em Canhotinho, a 206 km do Recife, e na cela da Polícia Federal, em Brasília, ocupando o mesmo ambiente em que estavam prisioneiros afamados, como José Dirceu e Marcelo Odebrecht. Sobre este, disse que era bem comportado e tinha como mania se exercitar de forma exagerada.
Em seu livro de memórias, José Dirceu revela que chegou a dar banho em Pedro Corrêa quando este teve seu estado de saúde agravado por ser diabético. “Dirceu tem ódio mortal a Lula, revelava que foi sacana não apenas com pessoas que deram o sangue e a vida pelo seu Governo, como ele, como tantos outros, como José Genoino (ex-presidente do PT)”, detalha Corrêa. Perguntado por que Dirceu nunca entregou Lula, afirmou: “Porque é um guerrilheiro e na guerrilha não se aprende a trair”.
Sobre Lula, Corrêa confessa que ele acompanhou de perto e deu o start para todas as operações do Mensalão. “Ele sabia que a gente recolhia contribuições das estatais, como a Petrobras. Certa vez, fui cobrar a ele dinheiro para a nossa campanha e reagiu dizendo que estava sabendo através do Paulinho que dinheiro para nós não era problema”, disse. O Paulinho, como assim travava Lula, era Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras, por onde o dinheiro da corrupção jorrava.
Conforme fez questão de destacar Pedro Corrêa, Lula e o PT não foram apenas beneficiários dos R$ 400 milhões arrecadados nas estatais pelos operadores do mensalão como sabia de tudo. “Nunca houve uma prisão mais justa. Não sei de onde vem a fortuna que Lula declarou no Imposto de Renda. Eu sempre tive dinheiro de herança familiar, mas Lula chegou em São Paulo liso e acabou com o tempo fazendo fortuna. Tenho impressão de que o dinheiro dele é feminino”, ironizou.
Condenado pelo juiz e ex-ministro Sérgio Moro, Corrêa manifesta profunda decepção pelo fato dele ter colocado Lula e tantos outros na cadeia para, ao final de um processo tão aplaudido e acompanhado atentamente pela sociedade brasileira, se render à sedução do poder, aceitando ser ministro da Justiça. “De tanto prestar depoimento a Moro acabei criando com ele uma intimidade, a ponto até de contar causos da política pernambucana com os quais ele se divertia”, afirmou.
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