Os adversários do governo acharam pouco uma frente ampla contra Jair Bolsonaro. Formaram logo quatro, rebatizadas de “movimentos”, e a amplitude de cada um depende dos seus donos. O “Somos70porcento” diz aceitar qualquer um menos, menos os que ainda não se converteram. Daqui para a frente, está proibida a entrada de quem não abandonou a tempo os 30% restantes, que agrupam bolsonaristas, neobolsonaristas, criptobolsonaristas, simpatizantes e inocentes úteis.
O “Estamos Juntos” acolhe bandidos, mas veta xerifes. Sergio Moro, por exemplo, já foi avisado que não há vagas para ele na frente que reúne todos os quadrilheiros capturados pela Lava Jato. Menos Lula: o ex-presidente comunicou que, depois de muitas reflexões na cadeia, decidiu evitar a companhia de quem não tem contas a ajustar com a Justiça. Se Fernando Henrique Cardoso assinar um manifesto, Lula não irá abrilhantá-lho com um X.
O “Basta” é restrito a advogados — mas não basta a carteirinha da OAB. Juristas que criticam o STF, por exemplo, estão fora do movimento que recebe de braços abertos o doutor Antonio Carlos de Almeida Castro. Embora desprovido de notável saber jurídico e ilibada reputação, Kakay visita gabinetes do Supremo até trajando bermudas. Uma figura dessas não pode ficar fora de nenhuma frente ampla de bacharéis.
O “Somos Democracia” abrange fatias das torcidas organizadas dos times grandes de São Paulo. Um de seus porta-vozes explicou que o movimento não é de esquerda, nem de direita e nem de centro — como o PSD. Mas é contra fascistas. Até agora, os chefes se juntaram numa manifestação de rua. O que acontecerá se num jogo entre Palmeiras e Corinthians tentarem juntar na mesma arquibancada a Mancha Verde e a Gaviões da Fiel? É provável qu a democracia seja assassinada antes do apito inicial.
R7