Ao reagir à operação de busca e apreensão da Polícia Federal em endereços de aliados do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro deu a entender que um “momento de ruptura” seria só questão de tempo e mencionou a possibilidade de o pai tomar uma “medida enérgica”. O presidente, por sua vez, disse que não toleraria mais um dia igual àquele. Pareceu um ultimato.
Para Bolsonaro, pai, “ordens absurdas não se cumprem”, um comando válido no campo militar, mas não na democracia. Ordens de juízes devem ser cumpridas. Quem não concordar recorre ao próprio Judiciário. Recusar-se é desacato e, portanto, crime.
Tais reações geraram temores de que Bolsonaro tentaria um autogolpe. Um pouco antes, o general Augusto Heleno espalhou receios ao afirmar que eventual apreensão do celular do presidente teria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Soou como ameaça.
Dificilmente Bolsonaro reúne liderança e competência para articular o apoio militar a uma aventura, mas vale indicar suas prováveis consequências. A primeira seria o dano às Forças Armadas (FA). A partir de 1985, as FA buscaram restaurar a boa imagem perdida no regime autoritário. Isso incluiu profissionalização, mudança de currículos das escolas superiores de formação de especialistas e adequação às transformações do país e do mundo. O sucesso da estratégia é inequívoco. Por que jogar tudo no lixo?
Regimes autoritários são geralmente dos tempos da Guerra Fria. Diante de ameaça comunista, os EUA e a Europa Ocidental reconheciam rapidamente governos militares. Não mais o fazem. Hoje, um golpe mataria o projeto de nossa integração à OCDE, o clube de países ricos. O acordo entre o Mercosul e União Europeia, já ameaçado pelo incômodo com a ação do governo em relação ao meio ambiente, cairia por terra. Haveria o risco de sanções econômicas ao país. A cláusula democrática do Mercosul poderia isolar-nos, afetando mais de 20% das exportações de manufaturados.
Fundos globais de investimento, geradores de divisas e investimentos no nosso mercado financeiro nos últimos anos, poderiam deixar o país, passando de apostadores no futuro do Brasil a propagadores de seus riscos. Esses fundos gerenciam recursos de indivíduos e empresas de todo o mundo, os quais costumam fazer exigências sobre as empresas em que investem.
Tais investimentos tendem a valorizar o acrônimo ESG, que significa Environment, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança). Ditaduras podem representar imprevisibilidade e elevação de riscos. Investidores demandariam taxa de retorno mais alta, o que reduziria o valor de mercado das empresas. Fugas de capital poderiam piorar a liquidez e a eficiência da Bolsa de Valores.
É baixa a probabilidade de um golpe ou de outra mudança autoritária no Brasil, mas é fundamental avaliar as consequências e as perdas para o país, incluindo o abalo que causariam às instituições duramente construídas.
Veja