E no final de outubro de 2022, se resistir até lá na presidência, e caso tenha sido candidato outra vez e reeleito no segundo turno, Jair Bolsonaro dirá que a sua campanha foi a mais barata de todas. Disse a mesma coisa ao se eleger presidente pela primeira vez.
Também pudera se disser. Nem Fernando Henrique Cardoso, nem Lula que o sucedeu, nem Dilma Rousseff se comportaram como candidatos à reeleição desde o primeiro dia em que puseram os pés no Palácio do Planalto. Só Bolsonaro, e ostensivamente.
Ele se recusa a descer do palanque desde que levou a facada em Juiz de Fora. Recuperou-se da facada em cima de um palanque virtual. Por falta de preparo e de gosto para as atividades do cargo, não governa. É candidato a não governar pela segunda vez.
Como tal, usa todo o aparelho estatal ao seu alcance para realizar o único objetivo que de fato o atrai. E ao fazê-lo, abusa do poder que lhe foi concedido. Quem paga a conta? Quem paga literalmente a conta? Os contribuintes que pagam impostos.
Quanto custa aos cofres públicos cada saída de Bolsonaro para tomar cafezinho e confraternizar com devotos nos arredores de Brasília? Cada saída mobiliza um grande contingente de seguranças, de carros e de outros equipamentos visíveis e ocultos.
No último domingo, para vencer os quatro quilômetros que separam os palácios da Alvorada e do Planalto, dois helicópteros da Força Aérea Brasileira foram postos à sua disposição. Ele dispensou o primeiro porque era completamente fechado. Quem o notaria?
Providenciou-se o segundo, com uma saída lateral que poderia ser escancarada, como foi, para que ele, do alto, pudesse ser visto e acenar para algumas centenas de bolsonaristas reunidos na Esplanada dos Ministérios. O Messias que vem do céu!
Uma vez na terra, depois de 20 minutos de cumprimentos aos manifestantes que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e uma nova intervenção militar no país, montou em um cavalo da Polícia Militar e cavalgou para ser filmado. Quase perdeu as rédeas do animal.
Quanto custou tudo isso? A despesa será debitada no cartão de crédito da presidência da República, mas jamais será conhecida. São despesas consideradas secretas. Se reveladas, poderiam pôr em risco a segurança do presidente. É isso o que dizem os áulicos.
Ao seu lado no helicóptero estava o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa. Não seria relevante monetizar o custo do passeio do general. Sua presença em um ato de apoio ao presidente candidato implica em custo político – e esse simplesmente não tem preço.
Está nos manuais: compete ao ministro da Defesa exercer a direção superior das Forças Armadas. Exército, Marinha e Aeronáutica tem seus comandantes. Mas eles se reportam ao general Azedo e Silva que, por sua vez, se reporta ao presidente da República.
Quantas vezes Bolsonaro já não proclamou que as Forças Armadas o apoiam? Ao exibir-se com o ministro que as dirige, em manifestação de cunho político e eleitoral, ele passa a mensagem de que conta com o apoio dos militares para governar e se reeleger.
Correu a informação de que Azevedo e Silva pegara carona no helicóptero de Bolsonaro para ir para casa. Como a desculpa soou absurda, o Ministério da Defesa informou que o general aproveitou o sobrevoo para observar as condições de segurança da Esplanada.
O Poder e a Mentira são indissociáveis. Especialmente neste governo onde um presidente tosco é flagrado mentindo toscamente quase todo dia. No passado, Bolsonaro emporcalhou a farda de soldado. Hoje, emporcalha a farda dos generais que se deixam emporcalhar.
Azevedo e Silva foi obrigado por seus companheiros de organização a emitir nos últimos 40 dias três notas oficiais para explicar o que fez ou o que deixou de fazer, o que disse ou o que quis dizer. Não será surpresa se mais uma nota vier por aí.
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