(Recife-PE) – A live com o presidente Jair Bolsonaro pelo Instagram do meu blog varreu o mundo. Polêmico, duro na queda, impaciente na relação com a mídia, o Bolsonaro que os internautas brasileiros viram na noite da última terça-feira apresentou-se bem diferente: descontraído, vestido com a camisa do Sport de Campina Grande, abriu mais sorrisos do que fechou a cara. Quando o cumprimentei, foi logo avisando que eu ficasse à vontade. “Você tem toda a liberdade de perguntar o que quiser”, afirmou.
Conforme antecipei, ontem, na minha coluna do jornal O Poder, o presidente, em nenhum momento, sinalizou com qualquer tipo de censura. Não impôs pauta, sua assessoria não me pediu as perguntas para conhecimento prévio nem colocou qualquer restrição para temáticas, que foram da crise na saúde pública provocada pela pandemia do coronavírus à possibilidade dele enfrentar um processo de abertura de impeachment, alguns já com entrada protocolar na Câmara dos Deputados.
Escolhi e defini a pauta, com pontos políticos, econômicos e até de autonomia entre os poderes, com interferências indevidas e permanentes do Supremo Tribunal Federal, como a recente decisão de tirar dele o direito e a autonomia de nomear o diretor-geral da Polícia Federal. O presidente encarou também perguntas indigestas, como a de colocar em risco a vida da sociedade brasileira em tempos de pandemia, de isolamento social, com atos públicos pelas ruas de Brasília.
Neste caso, quis saber dele a razão de aceitar participar de manifestações nas quais o tom se dava em torno de intervenção federal quando ele havia sido, democraticamente, eleito. Bolsonaro não deixou nenhuma intervenção sem resposta. Entre os demais assuntos abordados, sua relação conflituosa com os governadores, as denúncias envolvendo o filho Flávio sobre rachadinha (divisão ilegal de salários de servidores) quando deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Quis saber, ainda, sobre mudanças na Polícia Federal de Pernambuco, cujo comando é acusado de não dar prosseguimento a investigações da Lava Jato e da Casa de Farinha. Perguntei também o que iria fazer com relação a essa farra com o dinheiro público destinado ao combate da Covid-19 praticada por governadores e prefeitos, mediante a dispensa de licitação assegurada por força do decreto de calamidade.
O instiguei, ainda, para desabafar mágoas em relação ao ex-ministro Sérgio Moro, a quem perguntei se não estava diante de um Judas. Ele riu e não quis o classificar como tal, mas em seguida bateu duro no ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, dando a entender que expunha o seu Governo instrumentalizado pela TV-Globo. Aliás, sobre a poderosa TV disse que ela perseguia o seu Governo, porque “a boquinha acabou”, referindo-se a montanha de dinheiro que a emissora faturava em governos passados.
Em nenhum momento, o presidente se afobou. Gostou tanto da forma serena e tranquila, embora dura, que conduzi a entrevista, que chegou a propor a prorrogar a live, que pelo Instagram só pode ter 60 minutos. O presidente deixou um balaio de manchetes para a mídia usar, como o furo no qual anunciou que estaria assinando, ontem, o decreto autorizando o protocolo da cloroquina. Foi aí que fez uma brincadeira, sem saber (nem este colunista também) que no mesmo dia haviam morrido mais de mil pessoas no rastro da pandemia do coronavírus, sugerindo que os que não tivessem coragem de usar a cloroquina no tratamento da doença usasse Tubaína. Isso acabou entrando para a manchete de todos os veículos nacionais quando o conteúdo da entrevista era muito mais profundo.
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