É natural que familiares do presidente Jair Bolsonaro sejam descrentes de que Adélio Bispo tenha agido sozinho no dia em que covardemente esfaqueou, e quase matou, o então candidato à Presidência do Brasil.
Para quem faz segurança, é instintivo rejeitar a hipótese de um homem solitariamente furar um aparato de policiais federais, treinados com inteligência e hábeis na posse de armas.
Para seguidores, pessoas que dispensam afetos e esperança em Bolsonaro, Adélio não é louco coisa nenhuma e tem mesmo características de terrorista que agiu a mando.
Tudo isso é compreensível, psicologicamente falando. Some-se a um fato histórico e comovente que pode vez em quando ser exorcizado para polemizar e contrapor, aí se tem a combinação política perfeita.
Mas, conspirações à parte, a conclusão de exaustiva investigação da Polícia Federal não bate com as desconfianças, e até torcida.
Adélio Bispo concebeu, planejou, agiu e executou por si mesmo o atentado que quase abreviou a vida de Bolsonaro.
No relatório entregue esta semana pela Polícia Federal à Justiça, obtido por VEJA, são listadas todas as apurações feitas desde setembro de 2018. No total, 77 testemunhas foram ouvidas, 65 pessoas entrevistadas 65 pessoas.
Em busca do ‘mandante’ do crime, peritos analisaram 611.995 sinais de telefone, 350 horas de imagens, 1.200 fotos, 6 000 mensagens instantâneas e 2 300 e-mails.
Os últimos sete anos da vida do ex-garçom e réu confesso Adélio Bispo de Oliveira foram vasculhados; viagens, chamadas telefônicas, transações bancárias e as mensagens enviadas pelo Facebook.
Longe dos achismos e dos peritos das redes sociais, o relatório técnico da PF traz o real: Adélio é o único criminoso daquela fatídica cena. O resto é ficção, narrativa ou fantasma político.
O que não torna menos grave o 6 de setembro de 2018. Houve um dia no Brasil em que um anônimo alucinado por suas paixões políticas tentou parar um candidato com o pior dos golpes. De faca, ódio e sangue.