Por que Jair Messias Bolsonaro demitiu um ministro, gerou uma crise política em meio a uma pandemia e colocou em risco o mandato presidencial para tentar, por três vezes, nomear o Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro?
Como até agora o Capitão não deu explicações, natural que surjam as especulações, principalmente por ser esse um desejo antigo do Presidente, alimentado desde agosto do ano passado.
Naquele mês, se deu o primeiro bote, quando Bolsonaro solicitou a troca do então Superintendente, Ricardo Saad, por um nome de sua escolha. A sugestão não foi aceita por Sérgio Moro e Maurício Aleixo, respectivamente Ministro da Justiça e Diretor-Geral da PF na época. Em janeiro passado, nova carga do Capitão. Moro e Valeixo então aceitaram retirar Saad, porém substituindo-o por Pedro Henrique de Oliveira, que não era o nome preferido pelo Presidente.
A partir daí os atritos entre Bolsonaro, o Ministro e o Diretor-Geral apenas se agravaram. Até a reunião do Conselho de Ministros, no Palácio do Planalto, em 22 de abril, quando o Capitão se dirigiu a Moro e afirmou que ele e Valeixo seriam demitidos, caso não trocassem o Superintendente do Rio de Janeiro por um nome de sua escolha. A ameaça – uma evidente intromissão política na Polícia Federal – foi gravada em vídeo e em áudio, gravação publicamente confirmada pelo Presidente e depois pela Advocacia Geral da União.
Logo em seguida, Sérgio Moro pediu demissão e Maurício Aleixo foi transferido para funções administrativas em Brasília. No dia 6 passado, seu lugar na Superintendência no Rio de Janeiro foi ocupado por Tácio Muzzi, escolhido pelo Capitão.
Argumentam os bolsonaristas que, sendo o Rio a principal base eleitoral do clã Bolsonaro, seria indiscutível o direito de o Presidente nomear seus aliados para os cargos que lhe aprouvessem. No entanto, há dezenas de cargos de livre provimento pelo Presidente no estado. Por que tamanha insistência na Superintendência da Polícia Federal?
Na esteira das pistas abertas pelo depoimento do ex-ministro Moro, as investigações podem chegar a respostas à pergunta que não cala. As investigações estão sendo conduzidas pelo Ministro Celso de Melo, decano do Supremo Tribunal Federal. Entre suas providências, a solicitação ao Palácio do Planalto da gravação da reunião do dia 22 de abril, prova documental do depoimento de Moro já entregue ao Supremo e que agora será periciada.
Olhos atentos dos investigadores também recairão sobre inquéritos abertos pela Polícia Federal no Rio que, de alguma forma, possam ao menos tangenciar o clã do Capitão. Há suspeitas, desde desvios de salários de funcionários da Assembleia Legislativa fluminense até ligações com milícias que teriam contatos com os assassinos da Vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Não surpreende, portanto, o alto teor das recentes explosões de ira do Presidente, logo ele um cavalheiro no trato social. Coincidentemente, o comportamento vulcânico se agravou depois de tornado público o depoimento de Moro, no qual o ex-ministro citou mensagem de texto que teria sido escrita pelo Capitão: “Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.
Talvez seja precipitado concluir, mas parece que o Capitão, macho alfa na terceira idade, sente um pouco de medo. Ele constata seu crescente isolamento e se vê apontado como um líder que, por incompetência, deflagrou uma crise política, em meio a uma tragédia sanitária e humanitária. Nenhuma das duas o Capitão se mostra capaz de solucionar, enquanto uma grave recessão econômica começa a mostrar as suas garras.
Por que, então, com tanto a se preocupar, com tanto a decidir, com tanto a fazer, Jair Messias Bolsonaro emprega tempo e energia para nomear um Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro de sua escolha pessoal? É a pergunta que não cala.
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