Polícia Federal, de instituição autônoma à guarda pretoriana – Heron Cid
Opinião

Polícia Federal, de instituição autônoma à guarda pretoriana

28 de abril de 2020 às 19h33 Por Heron Cid
Relatos de Moro e até afirmações do próprio presidente indicam que Bolsonaro almeja uma PF para chamar de sua

No Império Romano, a guarda pretoriana era encarregada de proteger os acampamentos militares. Com a tomada do poder, passou a fazer a guarda pessoal do imperador, com lances mercenários e troca de favores.

A julgar pelas palavras do ex-ministro Sérgio Moro e até mesmo o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, a Polícia Federal está ameaçada de perder o status de instituição de estado para virar acessório de um projeto de poder.

Até mesmo na defesa das insinuações de Moro, Bolsonaro não conseguiu esconder esse indisfarçável desejo.

Confessou, por mais de uma vez, ter atuado, agido e reivindicado demandar a PF em situações e questões envolvendo seus interesses pessoais ou políticos.

Obstinadamente, ele quer a Polícia encontrando um ‘culpado’, além de Adélio Bispo, pela facada que quase assassina o então candidato.

O chefe da Nação busca um mandante, coisa que até agora a investigação da PF não identificou sequer a existência. Certamente, pela ausência de elementos e provas para tanto.

Bolsonaro acionou a PF para resolver a bronca gerada pelo depoimento mal explicado do porteiro do seu condomínio que quase implicou o presidente no Caso Marielle.

De viva voz, Bolsonaro manifestou a vontade de ter acesso a relatórios de investigações e de inteligência para a “tomada de decisões”.

O que garante que, com a PF nas mãos, essas tais decisões não seriam a favor de si ou contra adversários?

No print divulgado por Moro, Bolsonaro foi direito ao comentar uma matéria que relatava a Polícia no encalço de deputados bolsonaristas. E tascou: “Mais um motivo para mudar o comando”.

Em linguagem prática, o ex-capitão almeja uma PF para chamar de sua. Uma polícia ao seu serviço.

Parte do pressuposto de que está sempre com a razão e movido pelos mais altruístas motivos. Ele, o bem, e os que mira, o mal. Um pensamento absolutista.

Isso até cabe no mundo particular bolsonarista, mas não encaixa no Estado de Direito.

A pretensão esbarra num obstáculo muito superior à resistência de Sérgio Moro; a Constituição. E nenhum dos artigos dela prevê uma guarda pretoriana para sua excelência.

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