Para quem não suporta mais o governo, uma notícia ruim. Para quem acredita, apesar dos pesares, um alento. Ao que tudo indica, o presidente Jair Bolsonaro escapa de eventual abertura de processo de impeachment.
Tradicionalmente, nos corredores de Brasília, o impedimento presidencial é prescrito como certo na seguinte associação: minoria no Congresso, corrupção, problema na economia e movimento de ruas.
Desses males, a economia é o seu ponto fraco, com tendência de se acentuar pelos efeitos da crise da covid-19, mas o Bolsonaro de hoje está longe de preencher todos os requisitos.
Ao acenar para partidos do centro, o presidente sabia dos riscos e escolheu pagar o preço para se livrar do isolamento político. Tem hoje, se quiser, voto suficiente para barrar qualquer iniciativa nesse sentido. E, excetuando a esquerda mais radical, não há ambiente parlamentar para deserdá-lo do poder.
Não custa lembrar. Um cambaleante Michel Temer, detonado pela delação de Joesley Batista, pelo MPF e Lava Jato, e sem qualquer base popular, salvou-se com votos constrangidos do parlamento.
Até aqui, também não há um caso material de corrupção comprovada do presidente. O maior desvio ético atribuído a ele é o esforço para ter uma Polícia Federal sob seus pés. É grave, mas não chega a ser um escândalo pessoal de corrupção.
Por último, se sobram batidas de panela, falta o imprescindível barulho organizado das ruas, como nos ruidosos protestos contra Dilma Roussef.
Muito pela impossibilidade de aglomerações, que ironicamente o próprio Bolsonaro ignora e agora é beneficiado. Em maior medida porque, na verdade, as ruas estão constrangidas com os últimos fatos envolvendo Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro.
De um lado do quarteirão, os que estão envergonhados pela lavagem de roupa suja que expôs ambos e revelou mau cheiro na desesperada investida presidencial pelo controle da PF.
Do outro, uma militância que pouco ou nada pode falar sobre corrupção e que, até pouco tempo, chamava de ‘golpe’ impeachment de um governo que caiu apodrecido de malfeitos.
Desidratado no ponto mais forte do seu discurso, Bolsonaro ainda conta com um grande aliado; a sorte de ter os adversários que tem.