Não foi a primeira e nem será a última vez que o presidente Jair Bolsonaro flerta com o autoritarismo e depois solta a mão do discurso radical.
Um dia Bolsonaro fala para uma manifestação cujos cartazes pedem uma intervenção militar (desde que seja com Bolsonaro no comando, claro).
No outro, o presidente acena pelo respeito à democracia e as instituições, desde que elas funcionem ao seu modo, óbvio.
Esse é o método Jair Bolsonaro de governar e exercer sua liderança, bafejadas pelas urnas.
É a fórmula para manter acesa sua legião de seguidores, alimentar a fome de sua ativa e aguerrida militância, sem ao mesmo tempo emprestar aos adversários amparo legal para derrubá-lo.
Se repararmos direito, no seu pronunciamento em cima de uma caminhonete, em Brasília, não há uma fala de apoio a golpe. Até diz que quem quer democracia e liberdade pode contar com ele.
O que fica, porém, é o simbolismo do ato, em meio a faixas com discurso radical e ataques às instituições.
O presidente prefere jogar, portanto, nas entrelinhas. Ele deixa os dois lados em alerta e governa sob tensão permanente, mesmo na crise em que o país mais precisa de unidade.
Para os seus soldados “irados” com o “sistema”, uma satisfação. Para os “inimigos”, a ameaça subliminar.
Oficialmente, Bolsonaro não assume a tese de golpe. Informalmente, deixa a porta sempre entreaberta.
E assim o Brasil segue com democracia e ruptura separadas por um fio. E o presidente segurando a navalha.