No apagar das luzes de 2019, falando em rede nacional de TV e Rádio, o presidente Bolsonaro estufou o peito e berrou, como faz nas suas lives e nas broncas dadas em jornalistas, que encerrava o primeiro ano do seu mandato sem ceder às pressões de políticos na indicação de ministros para a sua equipe, optando por um primeiro escalão seu, escolhido a dedo, sem a velha política do toma-lá-dá-cá, conjugada e praticada pelos antecessores.
Tudo mentira. A crise do coronavírus abriu a ferida das suas inverdades, do jogo sujo e manipulador: Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde que tentou preservar a vida dos brasileiros ameaçados pela Covid-19, pedindo para ficar em casa, foi, sim, produto da arcaica e débil política, assentado na cadeira do maior orçamento do País, algo superior a R$ 122 bilhões, mediante acerto com o DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).
Nada contra critérios políticos em se tratando de um Congresso que só dá a maioria para o exercício da governabilidade em troca de participação no Governo. Isso foi assim desde o Governo de coalização de Sarney, passando pelo primeiro presidente eleito, Fernando Collor, FHC e Lula. O que intriga é a desfaçatez de Bolsonaro para enganar a população. Mandetta não apenas foi bancado pelo DEM, mas instrumentalizado pelos seus principais líderes, a começar pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, seu verdadeiro padrinho.
Essa história, portanto, de Ministério técnico e pessoal, é balela, para inglês ver. Se o País não estivesse enfrentando a maior crise de saúde da sua história, com consequências terríveis e imprevisíveis na economia, o Mandetta, ex-deputado do baixo clero da Câmara Federal, nunca iria ser carimbado como Democrata e ocupante de um pedaço grandioso no latifundiário do Governo Bolsonaro.
Bolsonaro pratica, sim, a velha política. Outro exemplo: a distribuição do segundo escalão federal nos Estados. Então aliado, o deputado Luciano Bivar, que emprestou o seu PSL para o presidente disputar a eleição em 2018, bancou o superintendente do Incra em Pernambuco antes da briga que levou o ex-chefe a deixar o partido, perdendo o espaço mais tarde para o deputado Augusto Coutinho. Não dá para acreditar num chefe da Nação que tem um discurso para a plateia bater palmas e outro para adoçar a boca dos seus fiéis e cegos seguidores.
A maior fatia – O DEM, aliás, logo de saída, indicou mais dois ministros de Bolsonaro: Onyx Lorenzoni (RS), hoje ministro da Cidadania, ocupou a Casa Civil, e Tereza Cristina, do DEM do Mato Grosso do Sul, responde pelo Ministério da Agricultura. O DEM já foi a 6ª maior bancada da Câmara, com 42 deputados, mas hoje só tem 29 cadeiras. Outros ministros filiados a partidos políticos são Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), que era do PSL, e o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), filiado ao nanico PRP. Quem manda, na verdade, hoje, no DEM, é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que faz o meio de campo com o presidente nacional ACM Neto, prefeito de Salvador.
O pedaço do MDB – Ex-ministro do Desenvolvimento Social no Governo Temer, Osmar Terra também foi outra indicação política, do MDB, para o Ministério da Cidadania do Governo. Já fora do Governo, sua pasta fundiu as atribuições dos ministérios do Esporte, da Cultura, além da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad), vinculada atualmente ao Ministério da Justiça. Ele foi responsável, também, por programas como o Bolsa Família, cuja principal bandeira foi o pagamento do 13º salário para todos os beneficiários. Terra foi ministro de Michel Temer e deixou o cargo em abril de 2018 para concorrer à reeleição de deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Bancado pelo MDB, teve o respaldo também de diversas frentes parlamentares que atuam no Congresso, como a da assistência social, de pessoas com deficiência, idosos e doenças raras.
Escândalo – Em estado de calamidade, os municípios estão com a permissão para fazer farra com o dinheiro público, aberta a brecha legal da dispensa de licitações. Mas nem toda extravagância escapa aos olhos atentos do Ministério Público, como a compra vergonhosa e escandalosa de 2,5 mil celulares, ao custo de R$ 1,6 milhão, pelo prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), com a justificativa fajuta de que seria para distribuição com alunos da rede de ensino municipal. A suspensão da negociata, pelo Ministério Público, desgraçou a imagem do Recife, indo parar em vários veículos da mídia nacional, além de viralizar pela internet via redes sociais.
Lapso de memória – Por falar em PSB, o pré-candidato do partido a prefeito do Recife, João Campos, saiu da toca do isolamento social no fim de semana. Postou em suas redes sociais um vídeo fazendo loas ao trabalho de Geraldo na crise do coronavírus, mas esqueceu de tratar da ganância do prefeito em garfar o IPTU de 2021 e também teve lapso de memória quando passou desapercebido suas referências elogiosas ao gasto escandaloso de R$ 1,6 milhão para compra de 2,5 mil celulares com o dinheiro meu, seu, nosso. O príncipe também não justificou o seu voto a favor de São Paulo no projeto bancado pela Câmara Federal para o governador João Dória (PSDB) abocanhar de largada R$ 30 bilhões em detrimento do Nordeste.
CURTAS
BLOQUEIO E SALVAÇÃO – O Diário de Notícias, de Portugal, traz artigo da embaixadora de Cuba naquele País, Mercedes Martínez Valdés, no qual ela história, em tempos de coronavírus, as ações solidárias das brigadas cubanas de saúde, desde os primórdios da Revolução, em vários países. Também descreve os avanços da Medicina na ilha e os indicadores avançados de saúde pública, entre os melhores do mundo e os mais altos da América Latina. Em circulação desde 1865, nos seus 155 anos de existência o Diário de Notícias teve entre seus colaboradores Eça de Queirós e José Saramago dentre outros intelectuais lusitanos.
ENTENDIMENTO… – Ainda sobre o golpe do PT em cima do PSB de Tabira, objeto de nota nesta coluna sábado passado, a presidente da Câmara, Nelly Sampaio (PSC), pré-candidata à prefeita, esclarece que não houve nenhum tipo de compromisso fechado na audiência aqui relatada com o governador Paulo Câmara (PSB). “O que houve foi um entendimento de que seriam estabelecidos critérios para se definir as candidaturas junto com o PT e que não seria empurrado nenhum prato feito goela-abaixo, principalmente se viesse junto com o prefeito Sebastião Dias (PTB), uma vez que a totalidade dos que estavam entrando no partido e os vereadores que já eram da legenda de oposição”, diz Nelly.
RASGADO – Mas se foi assim, então do gabinete do governador às salas dos corredores mal-assombrados do Palácio das Princesas esse entendimento foi rasgado e jogado no lixo, virando letra morta. O que, mais uma vez, fica constatado é que prevaleceu o apunhalamento pelas costas do deputado Waldemar Borges e do grupo que ele estava conduzindo em Tabira para o PSB. Alguém no Palácio ou muito próximo deu cobertura a essa deslealdade a quem, como Wal, tratado assim pelo núcleo duro do poder, só deu sangue e suor em muitas etapas da sua vida, principalmente quando líder de Câmara na Assembleia Legislativa.
Perguntar não ofende: Depois de Tabira e Afogados da Ingazeira, qual vai ser o próximo município para trapalhadas do deputado petista Carlos Veras em nome do PSB e do Palácio das Princesas, para desmoralizar o próprio PSB?