Comunicação na berlinda, a necessidade de unidade e o desabafo de Walter Santos – Heron Cid
Bastidores

Comunicação na berlinda, a necessidade de unidade e o desabafo de Walter Santos

16 de abril de 2020 às 16h40 Por Heron Cid

No começo dos anos 2.000, Walter Santos ia muito bem obrigado. Ex-secretário de Comunicação, o jornalista assinava uma das mais prestigiadas colunas da imprensa paraibana, no Correio da Paraíba, um espaço disputado e privilegiado.

Filho da Torrelândia, Santos trocou esse conforto e prestígio por algo totalmente improvável e de alto risco: o jornalismo digital. Trocou o conforto de empregado pelo desafio de empregador. Ali, estava nascendo o projeto do WSCOM, o primeiro portal de notícias paraibano.

A ideia era tão inusitada que o então secretário de Comunicação do Estado, Luiz Augusto Crispim, depois de uma visita à sede do veículo que estava acabando de nascer, ao invés de parabenizar pela iniciativa não se conteve e quase deu os pêsames. “Você tá doido”, exclamou.

Décadas depois, Walter Santos continua desbravando num garimpo surreal e pedregoso desse mercado de jornalismo. Ora empregando, ora enfrentando as dores de qualquer jornalismo que nada contra a maré e se aventura no empreendedorismo.

Ele tem autoridade, entre nós desse meio, para falar sobre esse grave e duro momento que estamos vivendo na comunicação. Um desafio de incompreensões somado às mudanças bruscas de um mercado atônito com novos comportamentos de consumo e cortes drásticos em publicidade, o sustento dos órgãos de comunicação.

Em seu mais novo artigo, Walter fez um desabafo pela surpresa da ausência de entidades importantes e emblemáticas, como o Sindicato dos Jornalistas e o Departamento de Comunicação da UFPB, entre aquelas que levantaram a voz e se apresentaram para fazer uma defesa da sustentabilidade do mercado comunicacional, incluindo agências de publicidade e assessorias de imprensa, e a manutenção dos poucos empregos que ainda restam num segmento debilitado.

Uma surpresa de onde menos se esperava; a academia e a histórica representação sindical. Por justiça e pertinência, reproduzo abaixo a missiva de Walter, torcendo e fazendo fé que, mesmo diante do descompasso, uma hora ou outra tanto o antigo Decom quanto o Sindicato se alistarão no front de defesa do jornalismo, dos jornalistas e da sustentabilidade. Nunca é tarde para fazer a coisa certa.

Leia o texto de Walter Santos:

Década Nos anos 70/80 a UFPB explodia de manifestações de professores, estudantes e técnico-administrativos pela retomada da democracia e da liberdade de expressão. A ADUF, recém criada, produziu uma NOTA, lembro bem, e foi ao camarim de Zé Ramalho no  Astréa – grande celeiro à época- e o artista se recusou a ler um apoio público à luta da sociedade. Se não me engano foi Paula Frassinete que teve o ofício de entregar o documento.

À época, o multicultural e colunista de A UNIÃO, Carlos Aranha, produziu belo texto sobre a catarse em torno de Zé Ramalho contestando a omissão do Neto de Avohai.

Lembro-me como se fosse hoje: Zé com Onaldo Mendes (ambos vivos) foram de ônibus à sede do jornal na Rua João Amorim para dar um soco em Aranha, que se escafedeu. Não o atingiu, mas marcou Zé para sempre.

O OUTRO SOCO NA HISTÓRIA

Nesta quarta-feira, 15 de abril de 2020, diversas entidades de comunicação- API, Sindicato dos Radialistas, AMIDI, ABAP, SINAPRO – jornalistas, radialistas e publicitários – soltaram manifesto pela defesa do mercado, do emprego e das empresas. Nenhuma das partes vive sozinha.

As entidades representam o GRITO de sobrevivência que sem ele tudo desmoronará sem retorno. Ainda bem que ainda existe quem lute pela existência dos atores do mercado! Só quem está demitido como ex-funcionários do Jornal Correio da Paraíba sabem deste significado.

GRAVE MOMENTO DAS EMPRESAS

Não há quem de bom senso ignore a fundamental importância dos profissionais de comunicação.  Só que o mercado está num buraco e há anos acumula prejuízos sem parar. A realidade do Jornal Correio não é de hoje, faz tempo vive em crise.

O fato é que há um novo modelo de empresas individuais com o mercado totalmente invadido por alienígenas e picaretas ocupando espaços de profissionais.

O NEGO DA OUTRA PARTE

Pois bem, por incrível que pareça o Sindicato dos Jornalistas, a Assemp e o Departamento de Comunicação da UFPB – o velho DAC – se recusaram a apoiar a nota, embora os dois sindicatos tenham aprovado e depois desfeito o apoio.

No caso do DECOM, é incompreensível e inaceitável que formando profissionais tenha se recusado a apoiar o emprego, os profissionais de comunicação e as empresas de forma decente.

Em síntese, ou o mundo enlouqueceu de vez ou nosso mercado convive com agentes contra a própria sobrevivência do Mercado, como jamais seria possível imaginar.

Réquiem para nossas futuras gerações desprotegidas!

ÚLTIMA

“O olho que existe/ É o que vê”

LEIA A NOTA DAS ENTIDADES EM FAVOR DO EMPREGO E DO MERCADO

‘NA LUTA CONTRA O CORONAVÍRUS, PAPEL DO JORNALISMO É INDISPENSÁVEL E COMUNICAÇÃO PRECISA SE MANTER DE PÉ COM EMPREGOS

O Coronavírus atingiu todos os segmentos com maior ou menor intensidade cabendo a cada um dimensionar os efeitos. Também afetada diretamente pela crise, as empresas de comunicação mantêm o papel responsável e intransferível do tratamento e veiculação das informações apuradas à sociedade.

Mas, é fundamental admitir que em tempos de crise afetando a todos, se faz urgente invocar como indispensável a manutenção dos investimentos privados e públicos na cadeia produtiva do jornalismo e da comunicação (rádios, TV’s, portais, sites, agências de publicidade, marketing digital, produtoras de áudio-visual, assessorias de imprensa, entre outros).

As ações comerciais e anúncios institucionais são a única fonte capaz de assegurar a mínima sustentabilidade desse importante sistema econômico gerador de empregos para um grande universo de profissionais que envolve repórteres, apresentadores, colunistas, produtores, editores, sonoplastas, iluminadores.

Além do mais, existem muitas famílias envolvidas e as empresas também abrigam diversos outros segmentos profissionais, que vão de recepcionista, recursos humanos, vigilantes, advogados, fonoaudiólogos, contadores, eletricistas, informática, publicitários, programadores, mídias, atendimento, vendedores, técnicos, engenheiros, para citar alguns.

A Comunicação não é uma peça isolada em si, mas parte mais visível de uma grande engrenagem presente na economia do dia dia e que merece e reivindica igual atenção a que tem sido dispensada, com justiça, às demais categorias profissionais.

As entidades, abaixo discriminadas, compromissadas com o direito à informação, consagrado na nossa Constituição Federal, com a democratização dos meios, e defensoras da importância dos veículos de comunicação como fortalecedoras da democracia na sociedade, perfilam-se também na defesa da auto sustentação dos veículos e sobrevivência dos seus agentes e trabalhadores.

Por tudo isso, consideramos indispensável a manutenção dos investimentos comerciais na mídia pelo mercado privado e organismos públicos, estes com a tarefa ainda mais coletiva de manter em evidência serviços essenciais e campanhas de conscientização.

O contrário disso significa, na prática, insensibilidade e a desidratação letal de uma estrutura composta por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, que – por dever de ofício e convicção cidadã – tem se arriscado e se feito parceiro indispensável na guerra contra essa terrível pandemia que ameaça saúde, empregos e renda.

Associação Paraibana de Imprensa (API)
Sindicato dos Radialistas da Paraíba
Associação de Mídia Digital (Amidi-PB)
Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap-PB)
Sindicato das Agências de Propaganda-PB (Sinapro-PB)

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