Mesmo com o mundo andando em velocidade frenética antes da Covid-19, já se falava em “estagnação” e até em “estagnação secular”. De um lado, a economia dos EUA fervendo; de outro, países adotando juros negativos para forçar o dinheiro a circular ainda mais depressa, como se o mundo precisasse de ainda mais velocidade.
Esse paradoxo em que se vivia ao mesmo tempo aceleração e estagnação nunca pode ser bom sinal. Mesmo que profissionais do otimismo como Steven Pinker continuassem a pregar que vivíamos o “melhor dos mundos”, o fato é que já havia uma sensação (e números) mostrando que as condições de vida no planeta estavam se deteriorando. Podia até haver consumo, mas não havia progresso.
Um exemplo é que, quando se olha para inovação, mesmo com um mundo conectado em polvorosa, nunca mais houve um grande avanço tecnológico disruptivo com impacto econômico e social profundo, como a descoberta dos antibióticos ou a invenção do vaso sanitário.
Mesmo com o surgimento da internet, seu impacto na produtividade econômica continuou negligenciável. “A era do computador está em toda parte, menos nas estatísticas sobre produtividade”, já dizia Robert Solow em 1987. Além disso, apesar de toda a conectividade, nunca o distanciamento de visões entre as pessoas foi tão grande.
Com a Covid-19, estamos sendo obrigados a reduzir subitamente a velocidade. Essa frenagem, diferentemente do que se imagina, em vez de gerar só mais estagnação, permite também alguns poucos progressos impensáveis em tempos “normais”.