Domingo, soltei o celular perto das 18h30. Fui à cozinha, comer alguma coisa e entregar um dia de jejum a Deus. Quando voltei, peguei o celular e recebi a notícia: “Valdir Teles se foi”. Um infarto levou Valdir. O poeta estava na Serrinha – seu “céu na terra”, entre Tuparetama e São José do Egito, a terra que ele pousou depois que bateu asas do Cariri da Paraíba e rodou o país inteiro. O sangue era do Cariri, o coração do Pajeú. Não tinha não como ser poeta. Deus colocou Valdir nesse roteiro porque tinha um propósito – um propósito poético, afinal, já diria Geraldo Amâncio, ser poeta é dom de Deus!
Valdir fez a vida e a família no braço da viola. Junto com D Elsa criou família, rodou o mundo, fez história, formou os filhos e partiu. Diferente da infância, quando bateu as asas e deixou a Paraíba, feito um passarinho que beija os céus sem deixar a terra, dessa vez o poeta voou mais longe, foi pra imensidão, onde o olho não alcança, onde a mão não toca, mas onde o coração sente.
Desde domingo que eu me lembro das tantas vezes que estivemos juntos, das vezes que eu o ouvi cantar, dos aniversários cheios de amigos na Serrinha, de quando ele gravou um vaneirão pra minha eleição de deputado estadual. Foi Valdir. Fica o legado.
Ontem mais cedo, olhando meus grupos de poesia, vi um amigo de Gravatá-PE dizer que a cidade estava de baixo d’água, que os céus estremeciam ao som dos trovões. Ele disse que tinha certeza que aquilo não era chuva, *era o barulho da plateia do céu, que aplaudiu de pé o primeiro “pé de parede” de Valdir e João Paraibano*. Saí da sala do meu apartamento, onde estou de quarentena, olhei através da varanda e vi o céu de Campina escurecer, vi a chuva cair e o barulho entrar pelas janelas que tremiam com o vento. Tive a certeza de que Ronaldo e Asfora estavam na plateia. Estavam na primeira fila, aplaudindo a dupla de paraibanos, abraçados pelo Pajeú e que hoje cantam na eternidade. Louro, Dimas e Otacílio Batista, Pinto, Furiba, Jansen Filho, Rogaciano, Louro Branco e tantos outros também deviam estar por lá.
Hoje, a poesia chora a morte de Valdir. Hoje, a viola diz adeus a um dos seus maiores nomes. Hoje, o Pajeú e o Cariri ficam menores sem o poeta. Hoje, o rol dos cantadores no céu ganha um reforço que, parafraseando VilaNova, “é um pé de poesia balançando”.
Termino minha “homenagem” a Valdir com um mote decassílabo que me veio quando olhava as nuvens se carregando:
“HOJE O CÉU DO NORDESTE ESCURECEU / COM A NOTÍCIA DA MORTE DE VALDIR”.
Vá com Deus, poeta! Obrigado…
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