Chuva no Sertão é festa. Até hoje, nada me faz lembrar mais Marizópolis – minha terra natal – do que quando chove. Esteja onde eu estiver.
O cheiro da terra molhada transporta quilômetros de distância e aproxima o que nunca esteve longe.
Sertão chovido é a pura representação da renovação da vida, expressa pelos olhos da natureza. Tudo, repentinamente, muda.
A sequidão dá lugar ao verde que chega a doer, como canta Cátia de França, em Ponta do Seixas.
O Mofumbo perfuma o ar e tudo ao redor. Não há aroma mais doce, sublime e nativo. Até a cobra fica verdinha e lânguida serpenteia no barro vermelho, entre os galhos de marmeleiros.
Nas pedras, os riachos escorrem e desaguam até o destino final. Vai enchendo o Açude São Gonçalo/Marizópolis, como agora nessa invernada, prestes a se derramar e seguir sua jornada pelo Rio Piranhas até desembocar no Rio Grande do Norte.
Em breve, a contemplação à única sangria que todo mundo se junta em comemoração e se banha nas águas da esperança.
Na cabeça da barragem, vendedores se acumulam em suas barracas e a margem vira um carnaval fora de época.
A cena de penúria de anos de seca traveste-se numa praia doce, a praia do Sertão. Um formigueiro de gente celebrando a bênção dos céus que traz novos anos de água na terra.
O açude sangra e irriga a veia castigada de incertezas do sertanejo.