De máscara, o presidente Jair Bolsonaro protagonizou, em live, um raro momento de bom senso na sua escalada de rompantes.
Assumiu o crescimento do coronavírus e conclamou brasileiros à proteção e cuidados, além de anunciar as medidas tomadas pelo governo para conter o avanço da doença.
O auge da lucidez presidencial. Ele desaconselhou partidários das “manifestações legítimas” de irem às ruas neste domingo.
Fez tudo o que se espera de um presidente responsável.
Dias depois de fazer tudo ao contrário, ao minimizar o vírus, quebrar acordo com o Parlamento, no caso do orçamento impositivo, e encorajar as massas a protestar contra o Congresso e a favor, claro, do seu governo.
Com a derrota, em plenário, que ampliou o acesso das pessoas em vulnerabilidade ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), o presidente não quis, acertadamente, arriscar nas ruas.
Mas não perdeu a chance de praticar seu esporte predileto; morder e assoprar.
Defendeu o respeito às instituições e disse que o protesto não poderia ser dirigido contra elas. Ao tempo em que, ironicamente, também consolou iminentes manifestantes, assinalando que o “recado“ já havia sido dado ao Parlamento, praticamente tomando para si o movimento que jurou não estimular.
O presidente nega o que afirma e afirma o que nega. É uma questão tanto de estilo quanto de estratégia. E que vem dando certo. Para ele.