(BRASÍLIA) – A História atribui a pelo menos dois conquistadores das Américas uma atitude ousada. Ao desembarcar no território a ser perseguido, os comandantes ordenavam aos seu subordinados incêndio das naus do próprio exército. O recado era claro: o caminho que resta é seguir em frente. Para vencer ou morrer.
Ruy Carneiro, deputado federal do PSDB, está queimando seus navios. Semana a semana, o tucano dá gestos e passos na direção de uma irrevogável candidatura a prefeito de João Pessoa.
O último se deu ontem. Publicamente, Carneiro fez uma exortação de alerta ao prefeito Luciano Cartaxo, de quem ainda é aliado, para que o gestor “não repita o erro” do ex-governador Ricardo Coutinho, autor de duas imposições de candidaturas fragorosamente derrotadas na capital paraibana.
Não dá pra assumir o compromisso de votar numa candidatura ainda indefinida e imposta de “goela abaixo. Foram os termos usados por Ruy, que diferenciou “aliados de subordinados”.
Uma atitude corajosa, para uns, afrontosa, para outros. Mas, ninguém pode negar o caráter afirmativo.
O grito de Ruy é pedagógico. Ele quis representar um sentimento de parte dos partidos da aliança que, por motivos peculiares a cada legenda, evitam o confronto direto. Ao menos, no momento.
Mesmo correndo o iminente risco de ter indicados demitidos da gestão municipal, Carneiro já deu sinais suficientes de que não cumprirá o prazo estipulado por Luciano para definir quem fica e quem sai da gestão, a depender da declaração de voto e compromisso para 2020.
Paralelamente, deu a largada pessoal. Tem equipe organizada e anda pela cidade como pré-candidato. Nos bastidores, tem se cercado de pessoas e empresas que ajudam na concepção de um programa de governo e na bússola de um conceito. Conversa com presidentes de partidos e starta tratativas.
Demonstra que gostaria de ser candidato da gestão e de ter o apoio de Luciano, mas não faz dessa expectativa o único combustível de sua postulação.
Fala e age como pré-candidato. Sem esperar pelo timing dos concorrentes internos e externos. Tal qual Hérnan Cortez, o conquistador do México, Ruy Manuel Carneiro Barbosa de Aça Belchior – descendente dos portugueses pródigos em grandes navegações – queimou seus barcos. Pelo gesto, o território da sucessão é um caminho sem volta.